Por meio de elementos
simbólicos e imagens sensoriais – associadas, sobretudo, à música e ao fogo –,
o poeta descreve uma espécie de intensa experiência com o êxtase, explorando a
união de opostos em uma sondagem de seu próprio interior, quiçá para desvelar
verdades ocultas ou mesmo o seu potencial para autotransformar-se.
Falar em
autotransformação pressupõe um esforço contínuo e uma vontade de ir mais além
dos habituais limites de compreensão que temos de nós mesmos, entrando em
comunhão com a realidade mesma: concentrar-se num modo de ser consciencioso, ao
mesmo tempo que abrir-se para oferecer ao mundo o nosso melhor, integrando
corpo e mente para – numa jornada persecutória ao prazer e à gratificação – alcançar
a denominada autorrealização.
J.A.R. – H.C.
Antonin Artaud
(1896-1948)
Extase
Argentin brasier,
braise creusée
Avec la musique de
son intime force
Braise évidée, délivrée,
écorce
Occupée à livrer ses
mondes.
Recherche épuisante
du moi
Pénétration qui se
dépasse
Ah! joindre le bûcher
de glace
Avec l’esprit qui le
pensa.
La vieille poursuite
insondable
En jouissance
s’extravase
Sensualités sensibiles,
extase
Aux cristaux
chantants véritables.
Ô musique d’encre,
musique
Musique des charbons
enterrés
Douce, pesante qui
nous délivre
Avec ses phosphores
secrets.
Chegando a Giverny no
Inverno
(Claude Monet: pintor
francês)
Êxtase
Argênteo braseiro, brasa
terebrada
Com a música de sua
íntima força
Brasa desmedulada, livre,
casca
Empenhada em dadivar
seus mundos.
Exaustiva busca por
si mesmo
Penetração que se
transcende
Ah! Juntar a pira de
gelo
Ao espírito que a cogitou.
A velha e insondável
procura
Na volúpia se
extravasa
Sensualidades sensíveis,
êxtase
Sob autênticos
cristais cantantes.
Ó música do breu,
música
Música dos carvões
enterrados
Doce, pesada a nos
redimir
Com seus fósforos
secretos.
Referência:
ARTAUD, Antonin. Extase. In: DÉCAUDIN, Michel (Éd.). Anthologie de la poésie française du XXe siècle. Préface de Claude Roy. Édition revue et augmentée. Paris, FR: Gallimard, 2000. p. 314.
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