Ao falante, a
tentativa, o esforço, a conquista, o desejo, o enfrentamento de ideias –
inclusive a de começar a falar –, parecem-lhe desgastantes, tampouco suscitam vestígios
alentadores. Sob tal abordagem do mundo, tudo é sempre o mesmo: nada importa,
nada muda, nada se granjeia, pois, em última instância, esta seria a casa do vazio
e do sem-sentido.
Para além dessa visão
um tanto niilista, o vento acaba por se tornar o único elemento capaz de se
mover, de se trasladar, de comportar um pouco de substância que se equipare à
vida, integrando-se à realidade do ente lírico talvez como metáfora de uma força
elementar e sem pretensões, do simples existir por existir, sem o peso
monotônico e fatigante dos esforços humanos.
Subjacente aos versos
do poema, o questionamento sobre o sentido da vida, essa interrogante complexa,
que invariavelmente se posta mais à frente de qualquer empreendimento a que se
dê partida. Afinal, a leibniziana “razão suficiente” se nos apresenta a casa
instante como uma condição incontornável para que nos voluntariemos a porfiar
contra os bastiões da prostração!
J.A.R. – H.C.
Daniel Jonas
(n. 1973)
O vento
Porque não há nada em
vez de tudo? – perguntou
o cientista. – Tudo
me cansa:
a tentativa, o
esforço, o consegui-lo.
Tudo é redondamente
inútil:
o desejo, o seu
decesso.
O confronto de ideias
então
apavora-me. Até mesmo
a ideia de começar a falar,
a indústria de se
ganhar algo, o movimento
são desgastantes
antes de si.
Tudo é absolutamente
a mesma coisa.
Nada conquista nada.
O vento é.
Em: “Bisonte” (2016)
Vento soprando pela
casa de pedra
(Raymond Lewis:
pintor norte-americano)
Referência:
JONAS, Daniel. O
vento. In: __________. Os fantasmas inquilinos: poemas escolhidos.
Seleção e posfácio por Mariano Marovatto. 1. ed. São Paulo, SP: Todavia, 2019. p.
66.
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