Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Luiza Neto Jorge - Minibiografia

Neste soneto com uma topografia algo iconoclasta, a poetisa portuguesa nos ratifica a sua postura de desapego frente às convenções sociais e temporais, mostrando relutância em ser definida pelas modas vigentes ou por outras tendências contemporâneas: sentindo-se assim, fora de lugar no mundo, apenas se declara confortável sendo ela mesma.

 

Se desafia as expectativas convencionais de feminilidade ou faz terra arrasada dos padrões sociais pré-estabelecidos, pouco se lhe dá: o que lhe importa é manter-se em sua trilha de honestidade consigo mesma, dando testemunho de sua autodeterminação, segurança e capacidade de seguir adiante, mesmo a despeito de eventuais marés infensas que lhe venham de encontro.

 

J.A.R. – H.C.

 

Luiza Neto Jorge

(1939-1989)

 

Minibiografia

 

Não me quero com o tempo nem com a moda

Olho como um deus para tudo de alto

Mas zás! do motor corpo o mau ressalto

Me faz a todo o passo errar a coda.

 

Porque envelheço, adoeço, esqueço

Quanto a vida é gesto e amor é foda;

Diferente me concebo e só do avesso

O formato mulher se me acomoda

 

E se nave vier do fundo espaço

Cedo raptar-me, assassinar-me, cedo:

Logo me leve, subirei sem medo

À cena do mais árduo e do mais escasso.

 

Um poema deixo, ao retardador:

Meia palavra a bom entendedor.

 

Autorretrato

(Marie-Geneviève Bouliard: artista francesa)

 

Referência:

 

JORGE, Luiza Neto. Minibiografia. In: __________. 19 recantos e outros poemas. Apresentação de Jorge Fernandes da Silveira. Organização de Jorge Fernandes da Silveira e Mauricio Matos. Biobibliografia por Gastão Cruz. Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2008. p. 83.

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