Com uma linguagem
expressiva e evocadora, o poeta relata o seu desalento em relação às pungentes
memórias de sua infância – em última instância, de seu passado ou mesmo de sua identidade
em apresto –, num lar que se presume fosse feliz e cheio de vida, mas que,
agora, imerso em solidão, experimenta o vazio, desde o momento em que grande
parte dos familiares ou bem já pereceu ou bem partiu para terras distantes, em busca
de dias melhores.
Na sucessão de gerações,
cada uma leva consigo a carga de experiências pessoais e de sentimentos, ao
longo de uma travessia – que é tanto física quanto anímica – até a velhice:
veja-se o quanto o falante se encontra refém de um embate entre as sensações de
ternura e de gratidão a seus pais e as forças que o sujeitam a um nítido estado
de melancolia!
J.A.R. – H.C.
César Vallejo
(1892-1938)
Los Pasos Lejanos
Mi padre duerme. Su
semblante augusto
figura un apacible
corazón;
está ahora tan dulce…
si hay algo en él de
amargo, seré yo.
Hay soledad en el
hogar; se reza;
y no hay noticias de
los hijos hoy.
Mi padre se
despierta, ausculta
la huida a Egipto, el
restañante adiós.
Está ahora tan cerca;
si hay algo en él de
lejos, seré yo.
Y mi madre pasea allá
en los huertos,
saboreando un sabor
ya sin sabor.
Está ahora tan suave,
tan ala, tan salida,
tan amor.
Hay soledad en el
hogar sin bulla,
sin noticias, sin
verde, sin niñez.
Y si hay algo
quebrado en esta tarde,
y que baja y que
cruje,
son dos viejos
caminos blancos, curvos.
Por ellos va mi
corazón a pie.
Um passeio em família
(Christine Beard:
artista australiana)
Os Passos Distantes
Meu pai repousa. Seu
semblante augusto
semelha um aprazível
coração;
parece-me tão puro...
se há nele algo de
amargo, serei eu.
Há solidão em toda a
casa; rezam;
não há notícia de
seus filhos hoje.
Meu pai desperta,
atenta os olhos
à fuga para o Egito,
o lancinante adeus.
Parece-me tão
próximo;
se há nele algo
distante, serei eu.
E minha mãe passeia
nos jardins,
saboreando um sabor
já sem sabor.
Parece-me tão suave,
tão asa, tão saída,
tão amor.
Há solidão na casa
silenciosa,
sem notícias, sem
verde, sem infância.
E se algo há de
quebrado nesta tarde,
que baixa e que se
parte,
são dois velhos
caminhos curvos, brancos.
Por eles vai meu
coração a pé.
Referências:
Em Espanhol
VALLEJO, César. Los pasos
lejanos. In: __________. Obras completas. Tomo tercero: obra poética
completa. 1. ed. Buenos Aires, AR: Búsqueda; Lima, PE: Mosca Azul, 1974. p. 92.
Em Português
VALLEJO, César. Os
passos distantes. Tradução de Ivo Barroso. In: BARROSO, Ivo (Organização e tradução).
O torso e o gato: o melhor da poesia universal. Rio de Janeiro, RJ:
Record, 1991. p. 161.
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