Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

César Vallejo - Os Passos Distantes

Com uma linguagem expressiva e evocadora, o poeta relata o seu desalento em relação às pungentes memórias de sua infância – em última instância, de seu passado ou mesmo de sua identidade em apresto –, num lar que se presume fosse feliz e cheio de vida, mas que, agora, imerso em solidão, experimenta o vazio, desde o momento em que grande parte dos familiares ou bem já pereceu ou bem partiu para terras distantes, em busca de dias melhores.

 

Na sucessão de gerações, cada uma leva consigo a carga de experiências pessoais e de sentimentos, ao longo de uma travessia – que é tanto física quanto anímica – até a velhice: veja-se o quanto o falante se encontra refém de um embate entre as sensações de ternura e de gratidão a seus pais e as forças que o sujeitam a um nítido estado de melancolia!

 

J.A.R. – H.C.

 

César Vallejo

(1892-1938)

 

Los Pasos Lejanos

 

Mi padre duerme. Su semblante augusto

figura un apacible corazón;

está ahora tan dulce…

si hay algo en él de amargo, seré yo.

 

Hay soledad en el hogar; se reza;

y no hay noticias de los hijos hoy.

Mi padre se despierta, ausculta

la huida a Egipto, el restañante adiós.

Está ahora tan cerca;

si hay algo en él de lejos, seré yo.

 

Y mi madre pasea allá en los huertos,

saboreando un sabor ya sin sabor.

Está ahora tan suave,

tan ala, tan salida, tan amor.

 

Hay soledad en el hogar sin bulla,

sin noticias, sin verde, sin niñez.

Y si hay algo quebrado en esta tarde,

y que baja y que cruje,

son dos viejos caminos blancos, curvos.

Por ellos va mi corazón a pie.

 

Um passeio em família

(Christine Beard: artista australiana)

 

Os Passos Distantes

 

Meu pai repousa. Seu semblante augusto

semelha um aprazível coração;

parece-me tão puro...

se há nele algo de amargo, serei eu.

 

Há solidão em toda a casa; rezam;

não há notícia de seus filhos hoje.

Meu pai desperta, atenta os olhos

à fuga para o Egito, o lancinante adeus.

Parece-me tão próximo;

se há nele algo distante, serei eu.

 

E minha mãe passeia nos jardins,

saboreando um sabor já sem sabor.

Parece-me tão suave,

tão asa, tão saída, tão amor.

 

Há solidão na casa silenciosa,

sem notícias, sem verde, sem infância.

E se algo há de quebrado nesta tarde,

que baixa e que se parte,

são dois velhos caminhos curvos, brancos.

Por eles vai meu coração a pé.

 

Referências:

 

Em Espanhol

 

VALLEJO, César. Los pasos lejanos. In: __________. Obras completas. Tomo tercero: obra poética completa. 1. ed. Buenos Aires, AR: Búsqueda; Lima, PE: Mosca Azul, 1974. p. 92.

 

Em Português

 

VALLEJO, César. Os passos distantes. Tradução de Ivo Barroso. In: BARROSO, Ivo (Organização e tradução). O torso e o gato: o melhor da poesia universal. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1991. p. 161.

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