Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

João de Jesus Paes Loureiro - Cântico V

A lírica do poeta alude à vastidão da bacia hidrográfica do Amazonas, sua biodiversidade, representando o volumoso rio como um símbolo de vida, de criação, mudança e transformação, de conexão entre o mundo terrenal e o divino – “predestinado rio em-si crucificado” –, rio vertido em “muitos nomes”, a depender do referencial linguístico das comunidades que vivem ao longo de seu leito.

 

Esse lugar de abundância e plenitude, de tensão e potencialidade infinita, é também o da selva imersa em sua magia, mistérios e lendas, a cada dia mais e mais sacrificada no altar do grande capital, ante o que se aspira a que a água e o lodo – como “sêmen de Deus” – sejam capazes de lhe restituir o equilíbrio, para assim restaurar o ecossistema em que se debruça o rio-mar.

 

J.A.R. – H.C.

 

João de J. P. Loureiro

(n. 1939)

 

Cântico V

 

Rio

de muitos nomes,

Ser

de muitas formas e fomes.

Espelho contra espelho

rio só linguagem.

Rio sim sêmen de Deus.

Amazonas

 água e lama

vogais e consoantes.

Que outro nome corre no teu leito,

se outro rio corre no teu nome?

Rio, superfície de si mesmo

e Mar além de si.

Terra antes de si.

  (Inexistência)

Aceitação do vago transitório,

nunca o mesmo,

o que uma onda sempre noutra

vaga...

O sempre aquém amando ser-além,

embora rio-agora quer ser rio-depois,

e escadaria de ilhas subir até o mar,

quando contém o mar em cada gota, onda, maresia...

Predestinado rio em-si crucificado.

 

Em: “Porantim: poemas amazônicos” (1978)

 

Vitória-régia da Amazônia

(Sérgio R. Yplinsky: artista mineiro)

 

Referência:

 

LOUREIRO, João de Jesus Paes. Cântico V. In: __________. Cantares amazônicos. 1. ed. São Paulo, SP: Roswitha Kempf Editores, 1985. p. 19.

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