Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 25 de janeiro de 2025

Czesław Miłosz - Um pobre poeta

Num mundo que experimenta frequentes mudanças e marchas, o poeta também passa por transições no curso de seus dias: da celebração inicial em relação aos feitos resultantes de atos criativos e extasiadas elocuções, imerge ele, em sequência, num estado de insolente amargura e de crítica cética em relação à realidade, ou ainda, quando muito, numa reserva cheia de escrúpulos, por descrer na inata bondade do ser humano.

 

Injustiça, desesperança e busca de vingança – neste último caso, tanto contra os outros quanto contra si mesmo, porque se sente culpado por toda a crueldade disseminada aos quatro cantos –, são o combo reverso da rebeldia contra um mundo que não se digna elevar-se à altura da perfeição, frente à qual a própria beleza da poesia chega a ser ofensiva para aqueles que sofrem, eclipsados amiúde pela dor e pelo sofrimento.

 

J.A.R. – H.C.

 

Czesław Miłosz

(1911-2004)

 

Biedny poeta

 

Pierwszy ruch jest śpiewanie,

Swobodny glos napełniający góry i doliny.

Pierwszy ruch jest radość,

Ale ona zostaje odjęta.

 

I kiedy lata odmieniły krew,

A tysiąc systemów planetarnych urodziło się i zgasło w ciele,

Siedzę, poeta podstępny i gniewny,

Z przymruŜonymi złośliwie oczami,

I waŜąc w dłoni pióro

Obmyślam zemstę.

 

Stawiam pióro, i puszcza pędy i liście, okrywa się kwiatem,

A zapach tego drzewa jest bezwstydny, bo tam, na realnej ziemi

Takie drzewa nie rosną i jest jak zniewaga

Wyrządzona cierpiącym ludziom zapach tego drzewa.

 

Jedni chronią się w rozpacz, która jest słodka

Jak mocny tytoń, jak szklanka wódki wypita w godzinie zatraty.

Inni mają nadzieję głupich, róŜową jak erotyczny sen.

 

Jeszcze inni znajdują spokój w bałwochwalstwie ojczyzny,

Które moŜe trwać długo,

ChociaŜ niewiele dłuŜej, niŜ trwa jeszcze dziewiętnasty wiek.

 

Ale mnie dana jest nadzieja cyniczna,

Bo odkąd otworzyłem oczy, nie widziałem nic prócz łun i rzezi,

Prócz krzywdy, poniŜenia i śmiesznej hańby pyszałków.

Dana mi jest nadzieja zemsty na innych i na sobie samym,

GdyŜ byłem tym, który wiedział

I Ŝadnej z tego dla siebie nie czerpał korzyści.

 

W: “Ocalenie” (1945)

 

Paraíso do vale entre montanhas

(Charles Kim: artista sul-coreano)

 

Um pobre poeta

 

O primeiro movimento é o canto,

A voz livre preenchendo montanhas e vales.

O primeiro movimento é a alegria,

Mas ela é tomada.

 

E quando os anos mudarem o sangue

E mil sistemas planetários nascerem e se extinguirem do corpo,

Eu me sento, poeta ardiloso e irado,

Com os olhos maldosamente cerrados,

E pesando a pena entre os dedos

Planejo vingança.

 

Molho a pena e repontam nela brotos e folhas, se cobre de flores,

E o perfume dessa árvore é impudente, porque lá, na terra real,

Árvores assim não crescem e é como um insulto

A toda a gente que sofre o perfume dessa árvore.

 

Uns se protegem no desespero, que é doce

Como o tabaco forte, o trago de vodca na hora da perdição.

Outros têm a esperança dos tolos, rósea como um sonho erótico.

 

Outros ainda encontram paz na idolatria da pátria,

Que pode durar muito,

Mas não muito mais do que perdure ainda o século XIX.

 

A mim, porém, foi dada uma esperança cínica,

Pois desde que abri os olhos nada vi senão clarões e carnificinas,

Senão dano, humilhação e a irrisória infâmia dos soberbos.

Me foi dada a esperança da vingança contra os outros

e contra a mim mesmo,

Pois eu fui aquele que sabia

E não tirou disso para si qualquer proveito.

 

Em: “Salvação” (1945)

 

Referência:

 

MIŁOSZ, Czesław. Biedny poeta / Um pobre poeta. Tradução de Marcelo Paiva de Souza. In: __________. Para isso fui chamado: poemas. Seleção, tradução e introdução de Marcelo Paiva de Souza. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2023. Em polonês: p. 60 e 62; em português: p. 61 e 63.

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