Num mundo que
experimenta frequentes mudanças e marchas, o poeta também passa por transições
no curso de seus dias: da celebração inicial em relação aos feitos resultantes
de atos criativos e extasiadas elocuções, imerge ele, em sequência, num estado
de insolente amargura e de crítica cética em relação à realidade, ou ainda,
quando muito, numa reserva cheia de escrúpulos, por descrer na inata bondade do
ser humano.
Injustiça, desesperança
e busca de vingança – neste último caso, tanto contra os outros quanto contra si
mesmo, porque se sente culpado por toda a crueldade disseminada aos quatro
cantos –, são o combo reverso da rebeldia contra um mundo que não se digna elevar-se
à altura da perfeição, frente à qual a própria beleza da poesia chega a ser
ofensiva para aqueles que sofrem, eclipsados amiúde pela dor e pelo sofrimento.
J.A.R. – H.C.
Czesław Miłosz
(1911-2004)
Pierwszy ruch jest śpiewanie,
Swobodny glos
napełniający góry i doliny.
Pierwszy ruch jest
radość,
Ale ona zostaje odjęta.
I kiedy lata
odmieniły krew,
A tysiąc systemów planetarnych urodziło się i zgasło w ciele,
Siedzę, poeta podstępny i gniewny,
Z przymruŜonymi złośliwie oczami,
I waŜąc w dłoni pióro
Obmyślam zemstę.
Stawiam pióro, i
puszcza pędy i liście, okrywa się kwiatem,
A zapach tego drzewa
jest bezwstydny, bo tam, na realnej ziemi
Takie drzewa nie rosną i jest jak zniewaga
Wyrządzona cierpiącym ludziom zapach
tego drzewa.
Jedni chronią się w rozpacz, która jest słodka
Jak mocny tytoń, jak szklanka wódki wypita w godzinie zatraty.
Inni mają nadzieję głupich, róŜową jak erotyczny sen.
Jeszcze inni znajdują spokój w bałwochwalstwie ojczyzny,
Które moŜe trwać długo,
ChociaŜ niewiele dłuŜej, niŜ trwa jeszcze dziewiętnasty wiek.
Ale mnie dana jest
nadzieja cyniczna,
Bo odkąd otworzyłem oczy, nie widziałem nic prócz łun i rzezi,
Prócz krzywdy, poniŜenia i śmiesznej hańby pyszałków.
Dana mi jest nadzieja
zemsty na innych i na sobie samym,
GdyŜ byłem tym, który wiedział
I Ŝadnej z tego dla
siebie nie czerpał korzyści.
W: “Ocalenie” (1945)
Paraíso do vale entre
montanhas
(Charles Kim: artista
sul-coreano)
Um pobre poeta
O primeiro movimento
é o canto,
A voz livre
preenchendo montanhas e vales.
O primeiro movimento
é a alegria,
Mas ela é tomada.
E quando os anos mudarem
o sangue
E mil sistemas
planetários nascerem e se extinguirem do corpo,
Eu me sento, poeta
ardiloso e irado,
Com os olhos
maldosamente cerrados,
E pesando a pena
entre os dedos
Planejo vingança.
Molho a pena e
repontam nela brotos e folhas, se cobre de flores,
E o perfume dessa
árvore é impudente, porque lá, na terra real,
Árvores assim não
crescem e é como um insulto
A toda a gente que
sofre o perfume dessa árvore.
Uns se protegem no
desespero, que é doce
Como o tabaco forte,
o trago de vodca na hora da perdição.
Outros têm a
esperança dos tolos, rósea como um sonho erótico.
Outros ainda
encontram paz na idolatria da pátria,
Que pode durar muito,
Mas não muito mais do
que perdure ainda o século XIX.
A mim, porém, foi
dada uma esperança cínica,
Pois desde que abri
os olhos nada vi senão clarões e carnificinas,
Senão dano,
humilhação e a irrisória infâmia dos soberbos.
Me foi dada a
esperança da vingança contra os outros
e contra a mim mesmo,
Pois eu fui aquele
que sabia
E não tirou disso
para si qualquer proveito.
Em: “Salvação” (1945)
Referência:
MIŁOSZ, Czesław. Biedny
poeta / Um pobre poeta. Tradução de Marcelo Paiva de Souza. In: __________. Para
isso fui chamado: poemas. Seleção, tradução e introdução de Marcelo Paiva
de Souza. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2023. Em polonês: p. 60 e
62; em português: p. 61 e 63.
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