Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Hugo von Hofmannsthal - Balada da Vida Exterior

A vida, entre contradições e paradoxos, numa sucessão indetenível de energias criadoras e destrutivas, é a casa das belezas impermanentes, onde às vezes se tem a impressão de que a inevitabilidade da morte rouba todo o sentido às ações humanas, e o que hoje se nos parece o ápice radioso de uma civilização sobre a terra, amanhã pode vir a ser um lúgubre passado de ruínas.

 

Mas pode haver algo de mais profundo nos nimbos espessos que pairam sobre as nossas cabeças, para além de todos as fadigas e eventuais prazeres: na solidão existencial a que cada qual está submetido, apesar das muitas experiências compartilhadas, desdobra-se uma experiência cosmológica, capaz de desvelar, em sua riqueza simbólica, o sentido maior de que se reveste esse cenário de cifras ininteligíveis.

 

J.A.R. – H.C.

 

Hugo von Hofmannsthal

(1874-1929)

 

Ballade des Äußeren Lebens

 

Und Kinder wachsen auf mit tiefen Augen,

die von nichts wissen, wachsen auf und sterben,

und alle Menschen gehen ihre Wege.

 

Und süße Früchte werden aus den herben

und fallen nachts wie tote Vögel nieder

und liegen wenig Tage und verderben.

 

Und immer weht der Wind, und immer wieder

vernehmen wir und reden viele Worte

und spüren Lust und Müdigkeit der Glieder.

 

Und Straßen laufen durch das Gras, und Orte

sind da und dort, voll Fackeln, Bäumen, Teichen,

und drohende, und totenhaft verdorrte...

 

Wozu sind diese aufgebaut? Und gleichen

einander nie? Und sind unzählig viele?

Was wechselt Lachen, Weinen und Erbleichen?

 

Was frommt das alles uns und diese Spiele,

die wir doch groß und ewig einsam sind

und wandernd nimmer suchen irgend Ziele?

 

Was frommt’s, dergleichen viel gesehen haben?

Und dennoch sagt der viel, der “Abend” sagt,

ein Wort, daraus Tiefsinn und Trauer rinnt

 

wie schwerer Honig aus den hohlen Waben.

 

Velho pensativo

(Salomon Koninck: pintor flamengo)

 

Balada da Vida Exterior

 

E outras crianças crescem com olhos tristonhos,

Ignorantes de tudo, crescem e perecem

E os homens vão seguindo em busca dos seus sonhos.

 

E os doces frutos de outros frutos murchos crescem

E à noite caem como pássaros feridos

E jazem algum tempo e depois apodrecem.

 

E sempre o mesmo vento e sempre nos ouvidos

A antiga fala e o som da palavra que passa

E o gozo e a lassidão cansam nossos sentidos.

 

E as ruas correm pela grama e há uma praça

Em cada qual, com seus jardins, tanques, fanais,

Sinistras ameaças, pálida carcaça...

 

Por que as fazem assim? Por que tão desiguais

Entre si, a ruir, cidade após cidade?

Por que se alternam dor e riso, guerra e paz?

 

De que nos valem esses jogos, na verdade,

Se ao cabo somos sós, vamos sós dia a dia,

E a sós vagamos sem qualquer finalidade?

 

Ter visto e ouvido tanto, enfim, de que nos vale?

E no entanto diz muito aquele que diz “tarde”,

Palavra de onde vaza esta melancolia

 

Como o mel que se esvai da colmeia vazia.

 

Referência:

 

Hofmannsthal, Hugo von. Ballade des äußeren lebens / Balada da vida exterior. Tradução de Augusto de Campos. In: CAMPOS, Augusto de (Tradução e introdução). Irmãos germanos. Vários poetas. Florianópolis (Ilha de Santa Catarina): Editora Noa Noa, 1992. Em alemão: p. 22; em português: p. 23.

Nenhum comentário:

Postar um comentário