A vida, entre
contradições e paradoxos, numa sucessão indetenível de energias criadoras e
destrutivas, é a casa das belezas impermanentes, onde às vezes se tem a
impressão de que a inevitabilidade da morte rouba todo o sentido às ações
humanas, e o que hoje se nos parece o ápice radioso de uma civilização sobre a
terra, amanhã pode vir a ser um lúgubre passado de ruínas.
Mas pode haver algo
de mais profundo nos nimbos espessos que pairam sobre as nossas cabeças, para
além de todos as fadigas e eventuais prazeres: na solidão existencial a que
cada qual está submetido, apesar das muitas experiências compartilhadas, desdobra-se
uma experiência cosmológica, capaz de desvelar, em sua riqueza simbólica, o
sentido maior de que se reveste esse cenário de cifras ininteligíveis.
J.A.R. – H.C.
Hugo von Hofmannsthal
(1874-1929)
Ballade des Äußeren
Lebens
Und Kinder wachsen
auf mit tiefen Augen,
die von nichts
wissen, wachsen auf und sterben,
und alle Menschen
gehen ihre Wege.
Und süße Früchte
werden aus den herben
und fallen nachts wie
tote Vögel nieder
und liegen wenig Tage
und verderben.
Und immer weht der
Wind, und immer wieder
vernehmen wir und
reden viele Worte
und spüren Lust und
Müdigkeit der Glieder.
Und Straßen laufen
durch das Gras, und Orte
sind da und dort,
voll Fackeln, Bäumen, Teichen,
und drohende, und
totenhaft verdorrte...
Wozu sind diese
aufgebaut? Und gleichen
einander nie? Und
sind unzählig viele?
Was wechselt Lachen,
Weinen und Erbleichen?
Was frommt das alles
uns und diese Spiele,
die wir doch groß und
ewig einsam sind
und wandernd nimmer
suchen irgend Ziele?
Was frommt’s,
dergleichen viel gesehen haben?
Und dennoch sagt der
viel, der “Abend” sagt,
ein Wort, daraus Tiefsinn
und Trauer rinnt
wie schwerer Honig
aus den hohlen Waben.
Velho pensativo
(Salomon Koninck:
pintor flamengo)
Balada da Vida
Exterior
E outras crianças
crescem com olhos tristonhos,
Ignorantes de tudo,
crescem e perecem
E os homens vão seguindo
em busca dos seus sonhos.
E os doces frutos de
outros frutos murchos crescem
E à noite caem como
pássaros feridos
E jazem algum tempo e
depois apodrecem.
E sempre o mesmo
vento e sempre nos ouvidos
A antiga fala e o som
da palavra que passa
E o gozo e a lassidão
cansam nossos sentidos.
E as ruas correm pela
grama e há uma praça
Em cada qual, com
seus jardins, tanques, fanais,
Sinistras ameaças,
pálida carcaça...
Por que as fazem
assim? Por que tão desiguais
Entre si, a ruir,
cidade após cidade?
Por que se alternam
dor e riso, guerra e paz?
De que nos valem
esses jogos, na verdade,
Se ao cabo somos sós,
vamos sós dia a dia,
E a sós vagamos sem
qualquer finalidade?
Ter visto e ouvido
tanto, enfim, de que nos vale?
E no entanto diz
muito aquele que diz “tarde”,
Palavra de onde vaza
esta melancolia
Como o mel que se
esvai da colmeia vazia.
Referência:
Hofmannsthal, Hugo
von. Ballade des äußeren lebens / Balada da vida exterior. Tradução de Augusto
de Campos. In: CAMPOS, Augusto de (Tradução e introdução). Irmãos germanos.
Vários poetas. Florianópolis (Ilha de Santa Catarina): Editora Noa Noa, 1992. Em
alemão: p. 22; em português: p. 23.
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