Nesta sátira que joga
engenhosamente com o duplo sentido da palavra “direito” – de um lado, uma garantia
ou prerrogativa concedida a um determinado titular; de outro, a alusão à posição
física de algo, ou melhor, à “destra”, em oposição à “sinistra” –, Benedetti destila
a sua crítica aos governos ditos de direita, para quem os “direitos humanos” só
são importantes quando se trata de defender os seus próprios interesses.
A rigor, “direitos
humanos” não são uma questão de posicionamento político à direita ou à esquerda,
ao conservadorismo ou ao socialismo ou progressismo, senão um princípio de ordem
universal, albergado pelo primado da Lei e da Justiça.
Benedetti, um
escritor notoriamente comprometido com as ideias de correntes políticas de
esquerda, busca, de fato, denunciar a hipocrisia dos governos de direita:
escrito em 1978, no auge da “Guerra Fria”, durante a presidência de Jimmy Carter
nos EUA, o poema censura a repressão dos governos autoritários de direita
instalados na América Latina, sob a condescendência e o apoio norte-americano,
direto ou indireto.
J.A.R. – H.C.
Mario Benedetti
(1920-2009)
Ahora todo está claro
Cuando el presidente
Carter
se preocupa tanto
de los derechos
humanos
parece evidente que
en ese caso
derecho
no significa facultad
o atributo
o libre albedrío
sino diestro
o antizurdo
o flanco opuesto al
corazón
lado derecho en fin
En consecuencia,
¿no sería hora
de que iniciáramos
una amplia campaña
internacional
por los izquierdos
humanos?
En: “Cotidianas”
(1978-1979)
Paisagem Noturna
(O
Bom Samaritano)
(George Rouault:
pintor francês)
Agora tudo está claro
Quando o presidente
Carter
se preocupa tanto
com os direitos
humanos,
parece evidente que,
nesse caso,
direito
não significa faculdade
ou atributo
ou livre arbítrio,
mas sim destro,
ou anticanhoto
ou o flanco oposto ao
coração,
enfim, o lado
direito.
Em consequência,
não seria a hora
de iniciarmos
uma ampla campanha
internacional
pelos esquerdos
humanos?
Em: “Cotidianas”
(1978-1979)
Referência:
BENEDETTI, Mario.
Ahora todo está claro. In: __________. Antología poética. Introducción
de Pedro Orgambide. Selección del autor. 4. ed.; 8. reimp. Madrid, ES: Alianza
Editorial, 2017. p. 246.
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