Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Jane Kenyon - Desmontando a Árvore

O desmonte da árvore de Natal serve como metáfora para a mitigação das ilusões e da nostalgia pela inocência há muito perdida: empregando certa passagem de “Hamlet”, de Shakespeare, a poetisa norte-americana, ao aludir ao fato de que, durante o inverno, anoitece muito mais cedo, externa o seu desejo por cercar-se de luz, para iluminar os tons de inquietude que lhe oprimem o espírito.

 

Em meio ao retorno à faina quotidiana, depois das festividades de final de ano, sobressaem aquelas emoções arraigadas de um convívio familiar apegado às tradições cristãs: passada a régua para apurar-se a soma de todos os fragores, remanesce apenas o aroma balsâmico do abeto a impregnar a casa e uma disposição para encontrar beleza, inclusive nos momentos soturnos ou contingentes da vida.

 

J.A.R. – H.C.

 

Jane Kenyon

(1947-1995)

 

Taking Down the Tree

 

“Give me some light!” cries Hamlet’s

uncle midway through the murder

of Gonzago. “Light! Light!” cry scattering

courtesans. Here, as in Denmark,

it’s dark at four, and even the moon

shines with only half a heart.

 

The ornaments go down into the box:

the silver spaniel, My Darling

on its collar, from Mother’s childhood

in Illinois; the balsa jumping jack

my brother and I fought over,

pulling limb from limb. Mother

drew it together again with thread

while I watched, feeling depraved

at the age of ten.

 

With something more than caution

I handle them, and the lights, with their

tin star-shaped reflectors, brought along

from house to house, their pasteboard

toy suitcases increasingly flimsy.

Tick, tick, the desiccated needles drop.

 

By suppertime all that remains is the scent

of balsam fir. If it’s darkness

we’re having, let it be extravagant.

 

Ornamentando a Árvore de Natal

(Autoria Desconhecida)

 

Desmontando a Árvore

 

“Dai-me alguma luz!”, grita o tio

de Hamlet no desenrolar do assassinato

de Gonzago. “Luz! Luz!”, clamam as cortesãs

em dispersão. Aqui, como na Dinamarca,

já escurece às quatro, e até a lua

brilha apenas a meio coração.

 

Os enfeites são transferidos para a caixa:

o spaniel prateado – com o Meu Querido

na coleira – vindo desde a infância de mamãe

em Illinois; o boneco articulado de pau-de-balsa

pelo qual meu irmão e eu brigamos,

mutilando-o membro a membro. Mamãe

o recompôs com linha

enquanto eu a tudo assistia, sentindo-me perversa

aos dez anos de idade.

 

Com algo mais do que cautela

eu os manuseio, assim como as luzes, com os seus

refletores esteliformes espelhados, trasladadas

de casa em casa, em suas caixas de brinquedo

acartonadas cada vez mais frágeis.

Tic, tic, caem as agulhas ressequidas.

 

Na hora do jantar, tudo o que resta é o aroma

balsâmico do abeto. Se o que estamos a enfrentar

for escuridão, que seja ela extravagante.

 

Referência:

 

KENYON, Jane. Taking down the tree. In: __________. Collected poems of Jane Kenyon. Minneapolis, MN: Graywolf Press, sept. 2005. p. 153.

  

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