A poetisa cubana
recorre a uma série de perguntas cruciais para poder entender as inquietações
que a invadem, pejadas de emoções a fluírem como um rio em constante movimento,
de modo silencioso e persistente: o fato é que as perguntas resultam sem respostas
definitivas, pois que avançam para bem além de sua capacidade para desvelar as
razões que as levam a aflorar em seu espírito, deixando-o desassossegado.
Essa jornada para identificar
e entender as forças internas, imperceptíveis e inexoráveis, que estão em jogo,
impulsoras de uma sensação profunda e molesta a se estender por todo o corpo,
trilha caminhos por onde, a fio, se depreendem ominosas erupções ou cargas
emocionais, talvez decursivas de um obsessionante diálogo interno que, ao fim e
ao cabo, choca-se com o silêncio e com ele se funde, pois que descomedidamente autocrítico.
J.A.R. – H.C.
Rafaela Chacón Nardi
(1926-2001)
Poema
¿Qué río está
creciendo
callada, tercamente,
qué río está
corriendo
por mí?
¿Qué angustia
penetrando
mis poros y mis
venas?
¿Qué sombras cabalgando
mi sangre?
¿Qué voz con cruz de
arena
golpea mis oídos
y se hunde callada
después?
¿Qué rosa turbia y
nueva
me há nacido en los
dedos?
¿Por qué?
Barcos à vela no
Volga
(Konstantin I.
Gorbatov: pintor russo)
Poema
Que rio está crescendo
calado, tenazmente,
que rio está correndo
em mim?
Que angústia
penetrando
os meus poros e
veias?
Que sombras
cavalgando
meu sangue?
Que voz com cruz de
areia
me golpeia os ouvidos
e se afunda calada
depois?
Que rosa turva e nova
me nasceu entre os
dedos?
Por quê?
Referência:
NARDI, Rafaela
Chacón. Poema / Poema. Tradução de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. In: FERREIRA,
Aurélio Buarque de Holanda (Seleção e Tradução). Grandes vozes líricas
hispano-americanas. Edição bilíngue: espanhol x português. Rio de Janeiro,
RJ: Nova Fronteira, 1990. Em espanhol: p. 346; em português: p. 347. (‘Poesia
de Todos os Tempos’)
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