Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Gunnar Ekelöf - Cada homem é um mundo

Cada indivíduo é um mundo, povoado por uma multiplicidade de identidades e de experiências que lhe são próprias, vivenciadas a partir das interações com os pares, os quais, por sua vez, com os seus atos e omissões, nos trazem influxos cujas consequências nem sempre estamos plenamente conscientes dos seus bons ou maus efeitos.

 

Monarcas de nosso próprio mundo, somos também súditos em um sentido mais amplo, já que estamos sujeitos às sobreditas influências e interações com os outros: contrariamente à ideia de que temos absoluto controle sobre nossa existência, sustenta o poeta que, no mais das vezes, somos subjugados por forças bem mais além de nossa compreensão e manejo, como desejos em conflito ou híbridas emoções suscitas pelo amor e pela morte.

 

J.A.R. – H.C.

 

Gunnar Ekelöf

(1907-1968)

 

En värld är varje människa

 

En värld är varje människa, befolkad

av blinda varelser i dunkelt uppror

mot jaget konungen som härskar över dem.

I varje själ är tusen själar fångna,

i varje värld är tusen världar dolda

och dessa blinda, dessa undre världar

är verkliga och levande, fast ofullgångna,

så sant som jag är verklig. Och vi konungar

och furstar av de tusen möjliga inom oss

är själva undersåtar, fångna själva

i någon större varelse, vars jag och väsen

vi lika litet fattar som vår överman

sin överman. Av deras död och kärlek

har våra egna känslor fått en färgton.

 

Som när en väldig ångare passerar

långt ute, under horisonten, där den ligger

så aftonblank. – Och vi vet inte om den

förrän en svallvåg når till oss på stranden,

först en, så ännu en och många flera

som slår och brusar till dess allt har blivit

som förut. – Allt är ändå annorlunda.

 

Så grips vi skuggor av en sällsam oro

när något säger oss att folk har färdats,

att några av de möjliga befriats.

 

(Färjesång, 1941)

 

Borboletas

(Igor Morski: artista polonês)

 

Cada homem é um mundo

 

Cada homem é um mundo, povoado

por criaturas cegas em sombria revolta

contra o ego, o rei que as governa.

Em cada alma há mil almas cativas,

em cada mundo, mil mundos ocultos;

e essas criaturas cegas, esses inframundos

são reais e vivos, ainda que imperfeitos,

tão tangíveis quanto real eu sou. E nós, reis

e príncipes dos mil possíveis em nosso íntimo,

somos súditos no mesmo ato, aprisionados

a alguma criatura maior, cujos ser e essência

compreendemos tão pouco quanto o nosso regente

ao seu regente. De sua morte e de seu amor

nossos próprios sentimentos tomaram a cor.

 

Como quando um enorme barco a vapor passa

ao longe, sob a linha do horizonte, onde

fica tão reluzente ao anoitecer. – E disso só nos

apercebemos quando uma onda nos chega à costa,

primeiro uma, depois outra e muitas mais

que rebentam e rugem até que tudo se torne

como antes. – No entanto, tudo é diferente.

 

Assim nós, capturados pelas sombras de uma

estranha inquietude,

quando algo nos diz que as pessoas seguiram em frente,

que algumas dentre as possíveis se libertaram.

 

(Canção do Ferribote, 1941)

 

Referência:

 

EKELÖF, Gunnar. En värld är varje mánniska. In: __________. Samlade dikter. Efterskrift av Anders Olsson. Stockholm, SE: Albert Bonniers Förlag, 2018. s. 226.

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