O poeta vela por não
causar danos à “rosa” que ama, questionando-se se acaso não a maltrata, não a
deixa murchar ou não lhe causa alguma dor ao tentar protegê-la ou possuí-la: a
metáfora da “rosa” não se explicita no poema, embora, é claro, passe por algo muito
dileto na vida, um amor, uma paixão talvez, ou ainda a própria vida – essa
expressão maior de beleza e fragilidade.
Com efeito, aquilo
que há de mais puro e belo na vida submete-se à passagem dos dias, adstrito que
está à impermanência e ao desgaste, constituindo-nos a perda quotidiana: essa é
a substância de nossa luta interna, diante da qual ou bem sucumbimos ou bem intentamos
erigir a fortaleza para continuar adiante, apesar de todos contratempos.
J.A.R. – H.C.
Juan Gelman
(1930-2014)
mundo
la rosa que amo/¿cómo
la cuido yo?/
¿no le hago mal?/
¿no la ajo?/
¿no le corto los
pies?/
¿y este acabar?/¿este
estar
como no estar?/¿y
cómo irse
de vos/rosa?/
¿ayuntar el dolor a
lo ya sido?/
¿no entristecerte la
bondad/
que los más días se
te quema?/
¿y nada?/¿y todo?/¿y
ya jamás?/
¿y que no llores?/
En: “Eso” (1986)
Rosa em Chamas
(Angela Viens:
artista norte-americana)
mundo
da rosa que amo/como
cuidarei?/
não lhe faço mal?/
não a estrago?/
não lhe corto os
pés?/
e este acabar?/este
estar
como não estar?/e
como ir-se
de ti/rosa?/
ajuntar a dor ao já
sido?/
não entristecer-te a
bondade/
que no mais dos dias
se queima?/
e nada?/e tudo?/e
mesmo nunca?/
e que não chores?/
Em: “Isso” (1986)
Referência:
GELMAN, Juan. mundo / mundo. Tradução de Andityas Soares de Moura e Leonardo Gonçalves. In: __________. Isso. Tradução e introdução de Andityas Soares de Moura e Leonardo Gonçalves. Brasília, DF: Editora da UnB, 2004. Em espanhol: p. 42; em português: p. 43. (Coleção ‘Poetas do Mundo’)
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário