Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 13 de outubro de 2024

Juan Gelman - mundo

O poeta vela por não causar danos à “rosa” que ama, questionando-se se acaso não a maltrata, não a deixa murchar ou não lhe causa alguma dor ao tentar protegê-la ou possuí-la: a metáfora da “rosa” não se explicita no poema, embora, é claro, passe por algo muito dileto na vida, um amor, uma paixão talvez, ou ainda a própria vida – essa expressão maior de beleza e fragilidade.

 

Com efeito, aquilo que há de mais puro e belo na vida submete-se à passagem dos dias, adstrito que está à impermanência e ao desgaste, constituindo-nos a perda quotidiana: essa é a substância de nossa luta interna, diante da qual ou bem sucumbimos ou bem intentamos erigir a fortaleza para continuar adiante, apesar de todos contratempos.

 

J.A.R. – H.C.

 

Juan Gelman

(1930-2014)

 

mundo

 

la rosa que amo/¿cómo la cuido yo?/

¿no le hago mal?/

¿no la ajo?/

¿no le corto los pies?/

 

¿y este acabar?/¿este estar

como no estar?/¿y cómo irse

de vos/rosa?/

¿ayuntar el dolor a lo ya sido?/

 

¿no entristecerte la bondad/

que los más días se te quema?/

¿y nada?/¿y todo?/¿y ya jamás?/

¿y que no llores?/

 

En: “Eso” (1986)

 

Rosa em Chamas

(Angela Viens: artista norte-americana)

 

mundo

 

da rosa que amo/como cuidarei?/

não lhe faço mal?/

não a estrago?/

não lhe corto os pés?/

 

e este acabar?/este estar

como não estar?/e como ir-se

de ti/rosa?/

ajuntar a dor ao já sido?/

 

não entristecer-te a bondade/

que no mais dos dias se queima?/

e nada?/e tudo?/e mesmo nunca?/

e que não chores?/

 

Em: “Isso” (1986)

 

Referência:

 

GELMAN, Juan. mundo / mundo. Tradução de Andityas Soares de Moura e Leonardo Gonçalves. In: __________. Isso. Tradução e introdução de Andityas Soares de Moura e Leonardo Gonçalves. Brasília, DF: Editora da UnB, 2004. Em espanhol: p. 42; em português: p. 43. (Coleção ‘Poetas do Mundo’)

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