Tem-se aqui mais um
poema sobre a efêmera natureza da existência, ante a inevitável passagem do tempo:
como chuva sobre um lago ou vento sobre os cimos, a vida é transitória e, dela,
somente alguns rastros remanescem neste plano, ao seu desfecho. Afinal, nossos
costumes e hábitos são passam de um nada perante a eternidade!
Somos assombrados por
inquietudes e agitações, como se à beira de uma cova sempre estivéssemos – sem
lenitivos para os nossos pesares –, reféns de lutas intestinas e complexas emoções:
lágrimas, gemidos e tristezas sem fim configuram a tríplice amarra que, nesta cética
visão de Unamuno, afasta-nos diuturnamente de um pretenso estado de felicidade
terrena.
J.A.R. – H.C.
Miguel de Unamuno
(1864-1936)
¿Qué es tu vida, alma
mía?
¿Qué es tu vida, alma
mía?, ¿cuál tu pago?
¡Lluvia en el lago!
¿Qué es tu vida, alma
mía, tu costumbre?
¡Viento en la cumbre!
¿Cómo tu vida, mi
alma, se remueve?
¡Sombra en la cueva!
¡Lluvia en el lago!
¡Viento en la cumbre!
¡Sombra en la cueva!
Lágrimas es la lluvia
desde el cielo,
y es el viento
sollozo sin partida,
pesar la sombra sin ningún
consuelo,
y lluvia y viento y
sombra hacen la vida.
Chuva sobre o lago
(Emilio Alberti:
artista italiano)
O que é tua vida,
minh’alma?
Qual é tua vida,
minh’alma? que gratificação?
Chuva nesse mundão!
Qual é tua vida,
minh’alma, teus protocolos?
Vento nos tijolos!
Como tua vida,
minh’alma, se renova?
Sombra na cova!
Chuva nesse mundão!
Vento nos tijolos!
Sombra na cova!
Lágrima é chuva caída
do universo,
é o vento soluçando
sem alento,
é mensurar a sombra
sem nenhum provento,
e chuva e vento e
sombra são a vida.
Referência:
UNAMUNO, Miguel de. ¿Qué
es tu vida, alma mía? / O que é tua vida, minh’alma? Tradução de Ana Rossi. In:
__________. Poemas. Tradução de Ana Rossi. Brasília, DF: Editora da UnB,
2022. Em espanhol: p. 68; em português: p. 69. (Coleção ‘Poetas do Mundo’)
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