Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Miguel de Unamuno - O que é tua vida, minh’alma?

Tem-se aqui mais um poema sobre a efêmera natureza da existência, ante a inevitável passagem do tempo: como chuva sobre um lago ou vento sobre os cimos, a vida é transitória e, dela, somente alguns rastros remanescem neste plano, ao seu desfecho. Afinal, nossos costumes e hábitos são passam de um nada perante a eternidade!

 

Somos assombrados por inquietudes e agitações, como se à beira de uma cova sempre estivéssemos – sem lenitivos para os nossos pesares –, reféns de lutas intestinas e complexas emoções: lágrimas, gemidos e tristezas sem fim configuram a tríplice amarra que, nesta cética visão de Unamuno, afasta-nos diuturnamente de um pretenso estado de felicidade terrena.

 

J.A.R. – H.C.

 

Miguel de Unamuno

(1864-1936)

 

¿Qué es tu vida, alma mía?

 

¿Qué es tu vida, alma mía?, ¿cuál tu pago?

¡Lluvia en el lago!

¿Qué es tu vida, alma mía, tu costumbre?

¡Viento en la cumbre!

¿Cómo tu vida, mi alma, se remueve?

¡Sombra en la cueva!

¡Lluvia en el lago!

¡Viento en la cumbre!

¡Sombra en la cueva!

Lágrimas es la lluvia desde el cielo,

y es el viento sollozo sin partida,

pesar la sombra sin ningún consuelo,

y lluvia y viento y sombra hacen la vida.

 

Chuva sobre o lago

(Emilio Alberti: artista italiano)

 

O que é tua vida, minh’alma?

 

Qual é tua vida, minh’alma? que gratificação?

Chuva nesse mundão!

Qual é tua vida, minh’alma, teus protocolos?

Vento nos tijolos!

Como tua vida, minh’alma, se renova?

Sombra na cova!

Chuva nesse mundão!

Vento nos tijolos!

Sombra na cova!

Lágrima é chuva caída do universo,

é o vento soluçando sem alento,

é mensurar a sombra sem nenhum provento,

e chuva e vento e sombra são a vida.

 

Referência:

 

UNAMUNO, Miguel de. ¿Qué es tu vida, alma mía? / O que é tua vida, minh’alma? Tradução de Ana Rossi. In: __________. Poemas. Tradução de Ana Rossi. Brasília, DF: Editora da UnB, 2022. Em espanhol: p. 68; em português: p. 69. (Coleção ‘Poetas do Mundo’)

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