Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 5 de outubro de 2024

Victor Hugo - Plenitude

O poeta expressa seu afeto e gratidão por sua amada, evocando uma sensação de plenitude e eternidade em sua companhia, em meio a uma intensa conexão de ordem emocional e espiritual: consolo e apoio mútuos em momentos difíceis, compreensão, conexão e compartilhamento tanto nos momentos de tristeza quando nos de enlevo e de manifesto bem-estar.

 

Essa flor perene do amor segue imune à passagem do tempo e aos incômodos efeitos do envelhecimento, ou de outro modo, até mesmo quando sob um firmamento de nébulas aflitivas: é mais forte que o esquecimento e perdura como chama, intensa e ardente, em contraste com as cinzas que ficaram pelo caminho.

 

J.A.R. – H.C.

 

Victor Hugo

(1802-1885)

 

XXV: Puisque j’ai mis ma lèvre

 

Puisque j’ai mis ma lèvre à ta coupe encor pleine;

Puisque j’ai dans tes mains posé mon front pâli;

Puisque j’ai respiré parfois la douce haleine

De ton âme, parfum dans l’ombre enseveli;

 

Puisqu’il me fut donné de t’entendre me dire

Les mots où se répand le coeur mystérieux;

Puisque j’ai vu pleurer, puisque j’ai vu sourire

Ta bouche sur ma bouche et tes yeux sur mes yeux;

 

Puisque j’ai vu briller sur ma tête ravie

Un rayon de ton astre, hélas! voilé toujours;

Puisque j’ai vu tomber dans l’onde de ma vie

Une feuille de rose arrachée à tes jours;

 

Je puis maintenant dire aux rapides années:

– Passez! passez toujours! je n’ai plus à vieillir!

Allez-vous-en avec vos fleurs toutes fanées;

J’ai dans l’âme une fleur que nul ne peut cueillir!

 

Votre aile en le heurtant ne fera rien répandre

Du vase où je m’abreuve et que j’ai bien rempli.

Mon âme a plus de feu que vous n’avez de cendre!

Mon coeur a plus d’amour que vous n’avez d’oubli!

 

1er janvier 1835. Minuit et demi.

 

Plenitude

(Valérie Salem: artista francesa)

 

Plenitude

 

Eu, que nos lábios tive a tua taça cheia,

Que já nas tuas mãos pousei a fronte triste;

Que te respirei da alma, e tanto! o doce alento,

Perfume que na sombra oculto e casto existe;

 

Eu, que já pude ouvir de ti essas palavras

Que um coração começa e o outro adivinha;

Eu, que junto dos meus já vi chorar teus olhos,

E sorrir tua boca ao alcance da minha;

 

Eu, que já recebi sobre a cabeça em êxtase

Um raio de teu astro, ai! sempre tão velado;

Eu, que já vi cair na onda de minha vida

Um pétalo de rosa aos dias teus roubado;

 

Posso agora dizer para os rápidos anos:

“Passai! passai! p’ra mim não há envelhecer!

Levai, levai convosco as vossas murchas flores;

Tenho n’alma uma flor que não podem colher!

 

De vossa asa ao roçar não cai nem uma gota

Do vaso por que bebo, e eu enchi-o bem!

Meu coração tem mais amor que vós olvido!

E mais que cinza vós, minh’alma fogo tem!”

 

1º de janeiro de 1835. Meia-noite e meia.

(São Paulo, 1873)

Em: “Musa Peregrina” (1871-1901)

 

Referências:

 

Em Francês

 

HUGO, Victor. XXV: Puisque j’ai mis ma lèvre. In: __________. Œuvres complètes: Les chants du crépuscule. Paris, FR: J. Hetzel & Cie.; Maison Quantin, oct. 1835. p. 163-164.

 

Em Português

 

HUGO, Victor. Plenitude. Tradução de Lúcio de Mendonça. In: MENDONÇA, Lúcio de. Murmúrios e clamores: poesias completas. Rio de Janeiro, RJ: H. Garnier Livreiro-Editor, 1902. p. 281-282.

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