O poeta expressa seu afeto
e gratidão por sua amada, evocando uma sensação de plenitude e eternidade em
sua companhia, em meio a uma intensa conexão de ordem emocional e espiritual:
consolo e apoio mútuos em momentos difíceis, compreensão, conexão e compartilhamento
tanto nos momentos de tristeza quando nos de enlevo e de manifesto bem-estar.
Essa flor perene do
amor segue imune à passagem do tempo e aos incômodos efeitos do envelhecimento,
ou de outro modo, até mesmo quando sob um firmamento de nébulas aflitivas: é mais
forte que o esquecimento e perdura como chama, intensa e ardente, em contraste
com as cinzas que ficaram pelo caminho.
J.A.R. – H.C.
Victor Hugo
(1802-1885)
XXV: Puisque j’ai mis ma lèvre
Puisque j’ai mis ma lèvre à ta coupe encor pleine;
Puisque j’ai dans tes mains posé mon front pâli;
Puisque j’ai respiré parfois la douce haleine
De ton âme, parfum dans l’ombre enseveli;
Puisqu’il me fut donné de t’entendre me dire
Les mots où se répand le coeur mystérieux;
Puisque j’ai vu pleurer, puisque j’ai vu sourire
Ta bouche sur ma bouche et tes yeux sur mes yeux;
Puisque j’ai vu briller sur ma tête ravie
Un rayon de ton astre, hélas! voilé toujours;
Puisque j’ai vu tomber dans l’onde de ma vie
Une feuille de rose arrachée à tes jours;
Je puis maintenant dire aux rapides années:
– Passez! passez toujours! je n’ai plus à vieillir!
Allez-vous-en avec vos fleurs toutes fanées;
J’ai dans l’âme une fleur que nul ne peut cueillir!
Votre aile en le heurtant ne fera rien répandre
Du vase où je m’abreuve et que j’ai bien rempli.
Mon âme a plus de feu que vous n’avez de cendre!
Mon coeur a plus d’amour que vous n’avez d’oubli!
1er janvier 1835.
Minuit et demi.
Plenitude
(Valérie Salem: artista
francesa)
Plenitude
Eu, que nos lábios
tive a tua taça cheia,
Que já nas tuas mãos
pousei a fronte triste;
Que te respirei da
alma, e tanto! o doce alento,
Perfume que na sombra
oculto e casto existe;
Eu, que já pude ouvir
de ti essas palavras
Que um coração começa
e o outro adivinha;
Eu, que junto dos
meus já vi chorar teus olhos,
E sorrir tua boca ao
alcance da minha;
Eu, que já recebi
sobre a cabeça em êxtase
Um raio de teu astro,
ai! sempre tão velado;
Eu, que já vi cair na
onda de minha vida
Um pétalo de rosa aos
dias teus roubado;
Posso agora dizer
para os rápidos anos:
“Passai! passai! p’ra
mim não há envelhecer!
Levai, levai convosco
as vossas murchas flores;
Tenho n’alma uma flor
que não podem colher!
De vossa asa ao roçar
não cai nem uma gota
Do vaso por que bebo,
e eu enchi-o bem!
Meu coração tem mais
amor que vós olvido!
E mais que cinza vós,
minh’alma fogo tem!”
1º de janeiro de
1835. Meia-noite e meia.
(São Paulo, 1873)
Em: “Musa Peregrina”
(1871-1901)
Referências:
Em Francês
HUGO, Victor. XXV: Puisque
j’ai mis ma lèvre. In: __________. Œuvres complètes: Les chants du
crépuscule. Paris, FR: J. Hetzel & Cie.; Maison Quantin, oct. 1835. p. 163-164.
Em Português
HUGO, Victor.
Plenitude. Tradução de Lúcio de Mendonça. In: MENDONÇA, Lúcio de. Murmúrios
e clamores: poesias completas. Rio de Janeiro, RJ: H. Garnier Livreiro-Editor,
1902. p. 281-282.
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