O poeta recorre a
metáforas para representar a natureza e a realidade, empregando imagens que assumem
graduações entre o tangível e o efêmero, entre o factual e o ilusório, entre a “sombra”
e a “substância”, ou ainda, entre a maleabilidade da “percepção” e os
ancoradouros “de bronze ou de pedra” – onde se presume haver mais estabilidade
e empenho em se buscar a verdade.
As imagens que criamos
em nossas mentes são, segundo o poeta, áridas ou austeras o suficiente para que
possamos ter uma compreensão do mundo o mais ampla possível, o que nos leva a
permanecermos quase sempre na superficialidade platônica das aparências que
povoam nosso quotidiano, limitando-nos as aventuras com potencial para adentrar
o complexo espaço para além das coisas que julgamos, amiúde aprioristicamente, inacessíveis.
J.A.R. – H.C.
John Hewitt
(1907-1987)
Substance and Shadow
There is a bareness
in the images
I temper time with in
my mind’s defence;
they hold their own,
their stubborn secrecies;
no use to rage
against their reticence:
a gannet’s plunge, a
heron by a pond,
a last rook homing as
the sun goes down,
a spider squatting on
a bracken-frond,
and thistles in a
cornsheaf’s tufted crown,
a boulder on a
hillside, lichen-stained,
the sparks of sun on
dripping icicles,
their durable
significance contained
in texture, colour,
shape, and nothing else.
All these are sharp,
spare, simple, native to
this small republic I
have charted out
as the sure acre
where my sense is true,
while round its
boundaries sprawl the screes of doubt.
My lamp lights up the
kettle on the stove
and throws its shadow
on the whitewashed wall,
like some Assyrian
profile with, above,
a snake, or
bird-prowed helmet crested tall;
but this remains a
shadow; when I shift
the lamp or move the
kettle it is gone,
the substance and the
shadow break adrift
that needed bronze to
lock them, bronze or stone.
Sombras
(George Psaroudakis: artista
grego)
Substância e Sombra
Há certa aridez nas
imagens com as quais
modero o tempo, em defesa
da minha mente;
mantêm elas os seus
próprios e obstinados segredos;
de nada serve exasperar-me
contra as suas reticências:
o mergulho de um
alcatraz, uma garça junto a uma lagoa,
uma última gralha que
ao pôr do sol regressa ao ninho,
uma aranha a
aconchegar-se numa fronde de samambaia,
e cardos na coroa de
tufos de um feixe de milho;
um rochedo numa
encosta, manchado por líquenes,
os fulgores do sol sobre
os sincelos gotejantes,
seu perdurável
significado integrado
à textura, à cor, à
forma – e nada mais.
Tudo isso é incisivo,
frugal, simples, nativo
dessa pequena
república que ora mapeio,
enquanto gleba segura
onde minha percepção é fiável,
para além de cujas
lindes avultam os pedregais da dúvida.
Minha lamparina
ilumina a chaleira no fogão
e projeta sua sombra
contra a parede caiada de branco,
como um perfil
assírio encimado por uma serpente
ou um elmo aproado
com ave de fastigioso penacho;
mas tal não passa de uma
sombra; quando mudo
a lamparina de
posição ou movo a chaleira, ela se vai;
a substância e a
sombra desatracam
do bronze necessário
para fundeá-las – bronze ou pedra.
Referência:
HEWITT, John. Substance
and shadow. In: __________. The collected poems of John Hewitt. Edited
by Frank Ormsby. Newtownards, NIR: Blackstaff Press, 1991. p. 191.
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