O poeta rende homenagem a três mulheres que marcaram a sua vida, carreando uma dimensão singular de alegria, força e mistério a suas experiências e sentimentos: liminarmente, Yeats alude à sua relação próxima e sem complicações, durante os primeiros anos, com a novelista inglesa Olivia Shakespear (1863-1938), sua amiga e amante, num vínculo imperturbado e de felicidade compartilhada.
Depois, o falante
celebra a flama e a habilidade da dramaturga e folclorista irlandesa Isabella
Augusta Persse (1852-1932), mais conhecida como Lady Gregory, por liberá-lo de infaustas
cargas emocionais e preocupações, permitindo-lhe viver e trabalhar com um
sentimento de êxtase e paixão.
Por último, em
relação a Maud Gonne MacBride (1866-1953), atriz e feminista irlandesa, diz o
poeta que mantém-se ela como um raro e intrincado mistério, tendo sorvido boa parte de sua juventude sem demonstrar compaixão, o que bem explica a sua
dificuldade em lhe expressar gratidão e apreço.
J.A.R. – H.C.
W. B. Yeats
(1865-1939)
Friends
Now must I these
three praise –
Three women that have
wrought
What joy is in my
days:
One because no
thought,
Nor those unpassing
cares,
No, not in these
fifteen
Many-times-troubled
years,
Could ever come
between
Mind and delighted
mind;
And one because her
hand
Had strength that
could unbind
What none can
understand,
What none can have
and thrive,
Youth’s dreamy load,
till she
So changed me that I
live
Labouring in ecstasy.
And what of her that
took
All till my youth was
gone
With scarce a pitying
look?
How could I praise
that one?
When day begins to
break
I count my good and
bad,
Being wakeful for her
sake,
Remembering what she
had,
What eagle look still
shows,
While up from my
heart’s root
So great a sweetness
flows
I shake from head to
foot.
In:
“Responsibilities” (1914)
Três Mulheres
(Charles C. Curran: pintor
norte-americano)
Amigas (*)
Devo louvar agora as
três
Mulheres que teceram
a alegria
Que nos meus dias se
irradia:
Uma porque nem breve
pensamento,
Nem os cuidados
permanentes,
Não, não durante
estes quinze anos
Muitas vezes
turbados,
Jamais puderam se
interpor
Entre um espírito e
outro deleitados;
Outra porque a sua
mão
Teve a força de
desprender
O que ninguém pode
entender,
Nem pode ter e
prosperar, o fardo
Dos sonhos juvenis,
até que ela,
Ela mudou-me a ponto
de eu viver
Trabalhando em
completo êxtase.
E que dizer da que
tudo tomou, daquela
Que até partir a
minha mocidade
Deu-me um olhar, a
custo, de piedade?
Como louvar essa,
afinal?
Quando o dia começa a
despontar
Conto o meu bem,
conto o meu mal,
Acordado por causa
dela,
Lembrando tudo o que
ela era então,
Que olhar de águia
mostra ainda:
E sobe de meu coração
Uma doçura tão
infinda,
Que tremo da cabeça
aos pés.
Em:
“Responsabilidades” (1914)
Nota ao poema de
Péricles Eugênio da Silva Ramos:
(*). Maud Gonne
separou-se de MacBride em 1905, mas dele não se divorciou, por ser católica.
Yeats continuou a fazer poemas sobre ela, como este “Friends”, de janeiro de
1911. No início do poema refere-se a dois exemplos de amizade fiel, Mrs. Olivia
Shakespear (vv. 4-9) e Lady Gregory (vv. 10-16), e termina evocando seu amor
infeliz a Maud (vv. 17-28), com três versos finais que se diriam dignos de
Safo. (YEATS, 1987, p. 69, n.r.)
Referência:
YEATS, W. B. Friends
/ Amigas. Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. In: __________. Poemas
de W. B. Yeats. Tradução, introdução e notas de Péricles Eugênio da Silva
Ramos. São Paulo, SP: Art Editora, 1987. Em inglês: p. 68; em português: p. 69.
(Coleção ‘Toda Poesia’; v. 4)
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