Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

W. B. Yeats - Amigas

O poeta rende homenagem a três mulheres que marcaram a sua vida, carreando uma dimensão singular de alegria, força e mistério a suas experiências e sentimentos: liminarmente, Yeats alude à sua relação próxima e sem complicações, durante os primeiros anos, com a novelista inglesa Olivia Shakespear (1863-1938), sua amiga e amante, num vínculo imperturbado e de felicidade compartilhada.

 

Depois, o falante celebra a flama e a habilidade da dramaturga e folclorista irlandesa Isabella Augusta Persse (1852-1932), mais conhecida como Lady Gregory, por liberá-lo de infaustas cargas emocionais e preocupações, permitindo-lhe viver e trabalhar com um sentimento de êxtase e paixão.

 

Por último, em relação a Maud Gonne MacBride (1866-1953), atriz e feminista irlandesa, diz o poeta que mantém-se ela como um raro e intrincado mistério, tendo sorvido boa parte de sua juventude sem demonstrar compaixão, o que bem explica a sua dificuldade em lhe expressar gratidão e apreço.

 

J.A.R. – H.C.

 

W. B. Yeats

(1865-1939)

 

Friends

 

Now must I these three praise –

Three women that have wrought

What joy is in my days:

One because no thought,

Nor those unpassing cares,

No, not in these fifteen

Many-times-troubled years,

Could ever come between

Mind and delighted mind;

And one because her hand

Had strength that could unbind

What none can understand,

What none can have and thrive,

Youth’s dreamy load, till she

So changed me that I live

Labouring in ecstasy.

And what of her that took

All till my youth was gone

With scarce a pitying look?

How could I praise that one?

When day begins to break

I count my good and bad,

Being wakeful for her sake,

Remembering what she had,

What eagle look still shows,

While up from my heart’s root

So great a sweetness flows

I shake from head to foot.

 

In: “Responsibilities” (1914)

 

Três Mulheres

(Charles C. Curran: pintor norte-americano)

 

Amigas (*)

 

Devo louvar agora as três

Mulheres que teceram a alegria

Que nos meus dias se irradia:

Uma porque nem breve pensamento,

Nem os cuidados permanentes,

Não, não durante estes quinze anos

Muitas vezes turbados,

Jamais puderam se interpor

Entre um espírito e outro deleitados;

Outra porque a sua mão

Teve a força de desprender

O que ninguém pode entender,

Nem pode ter e prosperar, o fardo

Dos sonhos juvenis, até que ela,

Ela mudou-me a ponto de eu viver

Trabalhando em completo êxtase.

E que dizer da que tudo tomou, daquela

Que até partir a minha mocidade

Deu-me um olhar, a custo, de piedade?

Como louvar essa, afinal?

Quando o dia começa a despontar

Conto o meu bem, conto o meu mal,

Acordado por causa dela,

Lembrando tudo o que ela era então,

Que olhar de águia mostra ainda:

E sobe de meu coração

Uma doçura tão infinda,

Que tremo da cabeça aos pés.

 

Em: “Responsabilidades” (1914)

 

Nota ao poema de Péricles Eugênio da Silva Ramos:

 

(*). Maud Gonne separou-se de MacBride em 1905, mas dele não se divorciou, por ser católica. Yeats continuou a fazer poemas sobre ela, como este “Friends”, de janeiro de 1911. No início do poema refere-se a dois exemplos de amizade fiel, Mrs. Olivia Shakespear (vv. 4-9) e Lady Gregory (vv. 10-16), e termina evocando seu amor infeliz a Maud (vv. 17-28), com três versos finais que se diriam dignos de Safo. (YEATS, 1987, p. 69, n.r.)

 

Referência:

 

YEATS, W. B. Friends / Amigas. Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. In: __________. Poemas de W. B. Yeats. Tradução, introdução e notas de Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo, SP: Art Editora, 1987. Em inglês: p. 68; em português: p. 69. (Coleção ‘Toda Poesia’; v. 4)

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