O poeta espanhol nos oferece
uma receita para uma vida relaxada e deleitosa, centrada no valor das pequenas
coisas e nos prazeres efêmeros que o quotidiano nos proporciona: é o fascínio
pelo estético e pela juventude, pela satisfação à mesa – de dia ou de noite,
faça sol ou faça frio –, sob os efeitos nostálgicos do verão ou do inverno.
Se a vida,
eventualmente, nos trouxer dificuldades, em meio a incertezas e desafios,
aceitemo-las e nos resignemos: saibamos ser como um rei num “Palácio e Inverno”,
algo assim como Verlaine em sua vida despreocupada (descontados, obviamente, o
comportamento intempestivo e as loucuras do simbolista francês.)(rs)
J.A.R. – H.C.
Luis Antonio de Villena
(n. 1951)
Un Arte de Vida
Vivir sin hacer nada.
Cuidar lo que no importa,
tu corbata de tarde,
la carta que le escribes
a un amigo, la
opinión sobre un lienzo, que dirás
en la charla, pero
que no tendrás el torpe gusto
de pretender escrita.
Beber, que es un placer efímero.
Amar el sol y desear
veranos, y el invierno
lentísimo que invita
a la nostalgia (¿de dónde
esa nostalgia?).
Salir todas las noches, arreglarte
el foulard con
cariño esmerado ante el espejo,
embriagarte en
belleza cuanto puedas, perseguir
y anhelar jóvenes
cuerpos, llanuras prodigiosas,
todo el mundo que
cabe en tanta euritmia.
Dejar de amanecida
tan fantásticos lechos,
y olerte las manos
mientras buscas taxi, gozando
en la memoria, porque
hablan de vellos y delicias
y escondidos lugares,
y perfumes sin nombre,
dulces como los
cuerpos. ¡Qué frío amanecer entonces,
qué triste es, qué
bello! Las sábanas te acogerán
después, un tanto
yermas, y esperarás el sueño.
Del día que vendrá no
sabes nada. (No consultas
oráculos.) Te
quemarán hastíos y emociones,
tertulias y bellezas,
las rosas de un banquete
suntuario, y las
viejas callejas, donde se siente
todo, en el verano
como un aroma intenso.
Vivir sin hacer nada.
Cuidar lo que no importa.
Y si todo va mal, si
al final todo es duro,
como Verlaine, saber
ser el rey de un palacio de invierno.
En: “Hymnica” (1979)
O significado da vida
(Tui Sada: artista
croata)
Uma Arte de Vida
Viver sem fazer nada.
Cuidar do que não importa,
tua gravata de tarde,
a carta que escreves
a um amigo, a opinião
sobre uma tela, o que dirás
numa conversa, mas
que não terás a infame intenção
de o fazer por
escrito. Beber, que é um prazer efêmero.
Amar o sol e desejar
verões, e o inverno
lentíssimo que
convida à nostalgia (de onde
essa nostalgia?). Sair
todas as noites, arrumar-te
o foulard com
carinho e esmero diante do espelho,
embriagar-te em
beleza o quanto possas, perseguir
e desejar corpos
jovens, planícies prodigiosas,
todo o mundo que cabe
em tanta euritmia.
Deixar ao amanhecer
tão fantásticos leitos, sentir
das tuas mãos o olor
enquanto buscas o táxi, gozando
na memória, porque falam
de pelos macios, de delícias
e de lugares ocultos
e perfumes sem nome,
deleitáveis como os
corpos. Aliás, que alvorada fria,
quão triste, quão bela!
Os lençóis te acolherão
depois, um tanto ermos,
e esperarás pelo sono.
Do dia que virá não
sabes nada. (Não consultas
oráculos.) Hão de
queimar-te tédios e emoções,
tertúlias e belezas, as
rosas de um banquete
suntuoso, e as velhas
ruelas, onde tudo
se sente, no verão,
como um aroma intenso.
Viver sem fazer nada.
Cuidar do que não importa.
E se tudo correr mal,
se enfim tudo for penoso,
como Verlaine, saber
ser o rei de um palácio de inverno.
Em: “Hínica” (1979)
Referência:
VILLENA, Luis
Antonio. Un arte de vida. In: RUBIO, Fanny; FALCÓ, José Luis (Selección,
estudio y notas). Poesía española contemporánea (1939-1980). 1. ed. Madrid,
ES: Editorial Alhambra, 1981. p. 376.
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