Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 8 de outubro de 2024

Luis Antonio de Villena - Uma Arte de Vida

O poeta espanhol nos oferece uma receita para uma vida relaxada e deleitosa, centrada no valor das pequenas coisas e nos prazeres efêmeros que o quotidiano nos proporciona: é o fascínio pelo estético e pela juventude, pela satisfação à mesa – de dia ou de noite, faça sol ou faça frio –, sob os efeitos nostálgicos do verão ou do inverno.

 

Se a vida, eventualmente, nos trouxer dificuldades, em meio a incertezas e desafios, aceitemo-las e nos resignemos: saibamos ser como um rei num “Palácio e Inverno”, algo assim como Verlaine em sua vida despreocupada (descontados, obviamente, o comportamento intempestivo e as loucuras do simbolista francês.)(rs)

 

J.A.R. – H.C.

 

Luis Antonio de Villena

(n. 1951)

 

Un Arte de Vida

 

Vivir sin hacer nada. Cuidar lo que no importa,

tu corbata de tarde, la carta que le escribes

a un amigo, la opinión sobre un lienzo, que dirás

en la charla, pero que no tendrás el torpe gusto

de pretender escrita. Beber, que es un placer efímero.

Amar el sol y desear veranos, y el invierno

lentísimo que invita a la nostalgia (¿de dónde

esa nostalgia?). Salir todas las noches, arreglarte

el foulard con cariño esmerado ante el espejo,

embriagarte en belleza cuanto puedas, perseguir

y anhelar jóvenes cuerpos, llanuras prodigiosas,

todo el mundo que cabe en tanta euritmia.

Dejar de amanecida tan fantásticos lechos,

y olerte las manos mientras buscas taxi, gozando

en la memoria, porque hablan de vellos y delicias

y escondidos lugares, y perfumes sin nombre,

dulces como los cuerpos. ¡Qué frío amanecer entonces,

qué triste es, qué bello! Las sábanas te acogerán

después, un tanto yermas, y esperarás el sueño.

Del día que vendrá no sabes nada. (No consultas

oráculos.) Te quemarán hastíos y emociones,

tertulias y bellezas, las rosas de un banquete

suntuario, y las viejas callejas, donde se siente

todo, en el verano como un aroma intenso.

Vivir sin hacer nada. Cuidar lo que no importa.

Y si todo va mal, si al final todo es duro,

como Verlaine, saber ser el rey de un palacio de invierno.

 

En: “Hymnica” (1979)

 

O significado da vida

(Tui Sada: artista croata)

 

Uma Arte de Vida

 

Viver sem fazer nada. Cuidar do que não importa,

tua gravata de tarde, a carta que escreves

a um amigo, a opinião sobre uma tela, o que dirás

numa conversa, mas que não terás a infame intenção

de o fazer por escrito. Beber, que é um prazer efêmero.

Amar o sol e desejar verões, e o inverno

lentíssimo que convida à nostalgia (de onde

essa nostalgia?). Sair todas as noites, arrumar-te

o foulard com carinho e esmero diante do espelho,

embriagar-te em beleza o quanto possas, perseguir

e desejar corpos jovens, planícies prodigiosas,

todo o mundo que cabe em tanta euritmia.

Deixar ao amanhecer tão fantásticos leitos, sentir

das tuas mãos o olor enquanto buscas o táxi, gozando

na memória, porque falam de pelos macios, de delícias

e de lugares ocultos e perfumes sem nome,

deleitáveis como os corpos. Aliás, que alvorada fria,

quão triste, quão bela! Os lençóis te acolherão

depois, um tanto ermos, e esperarás pelo sono.

Do dia que virá não sabes nada. (Não consultas

oráculos.) Hão de queimar-te tédios e emoções,

tertúlias e belezas, as rosas de um banquete

suntuoso, e as velhas ruelas, onde tudo

se sente, no verão, como um aroma intenso.

Viver sem fazer nada. Cuidar do que não importa.

E se tudo correr mal, se enfim tudo for penoso,

como Verlaine, saber ser o rei de um palácio de inverno.

 

Em: “Hínica” (1979)

 

Referência:

 

VILLENA, Luis Antonio. Un arte de vida. In: RUBIO, Fanny; FALCÓ, José Luis (Selección, estudio y notas). Poesía española contemporánea (1939-1980). 1. ed. Madrid, ES: Editorial Alhambra, 1981. p. 376.

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