Seguindo simplesmente
o seu instinto, o gato segue a caçar o rato, sem cogitar que lhe inflige
sofrimento, pois que, ao agir sob o domínio da natureza, não tem qualquer
representação mental do que seja a dor, portanto sem deliberada maldade ou cruéis
intenções: tal representação, de fato, existe em nossos olhos cheios de má consciência
e de culpa, frente aos quais a compaixão e a empatia servem para lhes justapor
contrapartida, deixando-nos menos desconfortáveis.
Já no título do poema
Levertov alude à inocência do bichano, qualificando-o como um “anjo” a dançar
com sua “presa”, numa espécie de ritual de vida e de morte: por que interpretar
os atos dos seres não humanos segundo a nossa humana perspectiva, se os animais
apenas cumprem o seu demarcado papel no teatro dos fenômenos naturais?!
J.A.R. – H.C.
Denise Levertov
(1923-1997)
The Innocent
The cat has his sport
and the mouse suffers
but the cat
is innocent
having no image of
pain in him
an angel
dancing with his prey
carries it, frees it,
leaps again
with joy upon his
darling plaything
a dance, a prayer!
How cruel the cat is
to our guilty eyes
Gato e Rato
(Soo Beng Lim: artista
malaio)
O Inocente
O gato se diverte
e o rato sofre
mas o gato
é inocente
não havendo nele
qualquer ideia de dor
um anjo
dançando com sua presa
carrega-a, liberta-a,
salta de novo
com alegria sobre o
seu querido brinquedo
uma dança, um clamor!
Quão cruel é o gato aos
nossos olhos culpáveis
Referência:
LEVERTOV, Denise. The
innocent. In: __________. Collected earlier poems: 1940-1960. 7th print.
New York, NY: New Directions, 1979. p. 31.
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