Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 27 de outubro de 2024

Denise Levertov - O Inocente

Seguindo simplesmente o seu instinto, o gato segue a caçar o rato, sem cogitar que lhe inflige sofrimento, pois que, ao agir sob o domínio da natureza, não tem qualquer representação mental do que seja a dor, portanto sem deliberada maldade ou cruéis intenções: tal representação, de fato, existe em nossos olhos cheios de má consciência e de culpa, frente aos quais a compaixão e a empatia servem para lhes justapor contrapartida, deixando-nos menos desconfortáveis.

 

Já no título do poema Levertov alude à inocência do bichano, qualificando-o como um “anjo” a dançar com sua “presa”, numa espécie de ritual de vida e de morte: por que interpretar os atos dos seres não humanos segundo a nossa humana perspectiva, se os animais apenas cumprem o seu demarcado papel no teatro dos fenômenos naturais?!

 

J.A.R. – H.C.

 

Denise Levertov

(1923-1997)

 

The Innocent

 

The cat has his sport

and the mouse suffers

but the cat

is innocent

having no image of pain in him

 

an angel

dancing with his prey

 

carries it, frees it, leaps again

with joy upon his darling plaything

 

a dance, a prayer!

How cruel the cat is to our guilty eyes

 

Gato e Rato

(Soo Beng Lim: artista malaio)

 

O Inocente

 

O gato se diverte

e o rato sofre

mas o gato

é inocente

não havendo nele qualquer ideia de dor

 

um anjo

dançando com sua presa

 

carrega-a, liberta-a, salta de novo

com alegria sobre o seu querido brinquedo

 

uma dança, um clamor! 

Quão cruel é o gato aos nossos olhos culpáveis

 

Referência:

 

LEVERTOV, Denise. The innocent. In: __________. Collected earlier poems: 1940-1960. 7th print. New York, NY: New Directions, 1979. p. 31.

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