Em descritivo descerrar
de uma lua crescente, a poetisa colaciona nestas linhas, com um linguajar
dominantemente abrasileirado, alguns elementos da natureza propícios a compendiar
a complexidade da vida marinha e terrestre, seus delicados ciclos regenerativos,
em meio a uma atmosfera noturna e seus mistérios.
Os versos fluem
evocativos, trazendo-nos um arresto de vida, morte e transformação no frágil ecossistema
dos manguezais, a que se entremesclam elementos culturais e da flora/fauna de
nosso país – fragmentos de junco, argolas de palha, penas de garça, figos etc. –,
em suma, um basto cúmulo de fecundidade e beleza, num cenário em que as cores se
refratam para corroborar o estro de harmoniosa integração.
J.A.R. – H.C.
Josely Vianna
Baptista
(n. 1957)
Cortejo noturno
trouxe na lua crescente
uma canastra de peixes
(as guelras membranas baças
de romãs despedaçadas)
nos lampejos da minguante
um puçá de caranguejos:
tanino do mangue-bravo
fez o azul das carapaças
das fasquias de taquara
fisgou argolas de palha;
as plumas de maguari
transbordando das cabaças
no cesto da lua nova
frutos roxos de figueira,
gavelas, paveias, feixes
para o leito sobre a areia
Lua Aquática
(Andreea Dumez: artista
romena)
Referência:
BAPTISTA, Josely
Vianna. Cortejo noturno. In: FERREIRA DA SILVA, Dora et alii. Boa companhia:
poesia. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2003. p. 87.
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