Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Josely Vianna Baptista - Cortejo noturno

Em descritivo descerrar de uma lua crescente, a poetisa colaciona nestas linhas, com um linguajar dominantemente abrasileirado, alguns elementos da natureza propícios a compendiar a complexidade da vida marinha e terrestre, seus delicados ciclos regenerativos, em meio a uma atmosfera noturna e seus mistérios.

 

Os versos fluem evocativos, trazendo-nos um arresto de vida, morte e transformação no frágil ecossistema dos manguezais, a que se entremesclam elementos culturais e da flora/fauna de nosso país – fragmentos de junco, argolas de palha, penas de garça, figos etc. –, em suma, um basto cúmulo de fecundidade e beleza, num cenário em que as cores se refratam para corroborar o estro de harmoniosa integração.

 

J.A.R. – H.C.

 

Josely Vianna Baptista

(n. 1957)

 

Cortejo noturno

 

trouxe na lua crescente

uma canastra de peixes

(as guelras membranas baças

de romãs despedaçadas)

 

nos lampejos da minguante

um puçá de caranguejos:

tanino do mangue-bravo

fez o azul das carapaças

 

das fasquias de taquara

fisgou argolas de palha;

as plumas de maguari

transbordando das cabaças

 

no cesto da lua nova

frutos roxos de figueira,

gavelas, paveias, feixes

para o leito sobre a areia

 

Lua Aquática

(Andreea Dumez: artista romena)

 

Referência:

 

BAPTISTA, Josely Vianna. Cortejo noturno. In: FERREIRA DA SILVA, Dora et alii. Boa companhia: poesia. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2003. p. 87.

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