Tem-se aqui mais um
poema sobre o fluxo do tempo e sua relação com a eternidade, ele que transcorre
até que findo o seu trajeto, em horas lentas e pesadas – representadas como
passos de chumbo –, consumindo e devorando coisas falsas e vãs, eis que imersas
na transitoriedade do mundano e carentes de serventia à escala do eterno.
Trata-se, obviamente,
de uma visão otimista do autor inglês, esperançosa e espiritualizada, a dar prevalência
aos valores que se firmam em meio à verdade, à paz e ao amor, tríplice coroa à
volta da qual se encerra a verdadeira bem-aventurança, plena de significados capazes
de nos fazer transcender as “asperezas” sem conta que enfrentamos no quotidiano
terrestre.
J.A.R. – H.C.
John Milton
Gravura de Jacob
Houbraken (detalhe)
(1608-1674)
Fly envious Time, till thou run out thy race,
Call on the lazy leaden-stepping hours,
Whose speed is but the heavy Plummets pace;
And glut thy self with what thy womb devours,
Which is no more then what is false and vain,
And meerly mortal dross;
So little is our loss,
So little is thy gain.
For when as each thing bad thou hast entomb’d,
And last of all, thy greedy self consum’d,
Then long Eternity shall greet our bliss
With an individual kiss;
And Joy shall overtake us as a flood,
When every thing that is sincerely good
And perfectly divine,
With Truth, and Peace, and Love shall ever shine
About the supreme Throne
Of him, t’whose happy-making sight alone,
When once our heav’nly-guided soul shall clime,
Then all this Earthy grosnes quit,
Attir’d with Stars, we shall for ever sit,
Triumphing over Death, and Chance, and thee O Time.
A Voragem do Tempo I
(Lisa Marie Sipe: artista
norte-americana)
Sobre o Tempo
Voa ínvido Tempo, até
que o teu galope se esgote,
Apela à indolente e
morosa marcha das horas,
Cujo trote não é mais
que passos lerdos e plúmbeos;
Sacia-te com aquilo
que o teu ventre devora,
Nada além do que se
revela falso e vão,
E tão apenas resíduos
mortais;
Tão pouca é a nossa
perda;
Tão limitado é o teu
ganho.
Pois quando cada
coisa má tiveres sepultado
E, por fim, consumido
teu ávido ego,
Então a longa
Eternidade saudará nossa bem-aventurança
Com um beijo especial;
E a alegria nos invadirá
como uma torrente,
Quando tudo o que é
sinceramente bom
E perfeitamente
divino,
Em meio à Verdade, à
Paz e ao Amor,
Refulgir para sempre ao
redor do Trono supremo
Daquele cujo um único
olhar basta para nos tornar felizes;
Quando nossas almas,
celestialmente guiadas, ascenderem,
Deixando para trás todas
essas asperezas terrenas,
E ataviados com
estrelas, firmarmos assento no ilimitado,
Triunfando sobre a
Morte, o Acaso, e sobre ti, ó Tempo.
Referência:
MILTON, John. On
time. In: __________. The poetical works of John Milton. Review by John
Todd. Vol. IV (in 4 vols.). 5th ed. London, EN: Gilbert & Rivington
Printers, 1852. p. 275-276. Disponível neste endereço. Acesso em: 12 out.
2024.
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