Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

John Milton - Sobre o Tempo

Tem-se aqui mais um poema sobre o fluxo do tempo e sua relação com a eternidade, ele que transcorre até que findo o seu trajeto, em horas lentas e pesadas – representadas como passos de chumbo –, consumindo e devorando coisas falsas e vãs, eis que imersas na transitoriedade do mundano e carentes de serventia à escala do eterno.

 

Trata-se, obviamente, de uma visão otimista do autor inglês, esperançosa e espiritualizada, a dar prevalência aos valores que se firmam em meio à verdade, à paz e ao amor, tríplice coroa à volta da qual se encerra a verdadeira bem-aventurança, plena de significados capazes de nos fazer transcender as “asperezas” sem conta que enfrentamos no quotidiano terrestre.

 

J.A.R. – H.C.

 

John Milton

Gravura de Jacob Houbraken (detalhe)

(1608-1674)

 

On Time

 

Fly envious Time, till thou run out thy race,

Call on the lazy leaden-stepping hours,

Whose speed is but the heavy Plummets pace;

And glut thy self with what thy womb devours,

Which is no more then what is false and vain,

And meerly mortal dross;

So little is our loss,

So little is thy gain.

For when as each thing bad thou hast entomb’d,

And last of all, thy greedy self consum’d,

Then long Eternity shall greet our bliss

With an individual kiss;

And Joy shall overtake us as a flood,

When every thing that is sincerely good

And perfectly divine,

With Truth, and Peace, and Love shall ever shine

About the supreme Throne

Of him, t’whose happy-making sight alone,

When once our heav’nly-guided soul shall clime,

Then all this Earthy grosnes quit,

Attir’d with Stars, we shall for ever sit,

Triumphing over Death, and Chance, and thee O Time.

 

A Voragem do Tempo I

(Lisa Marie Sipe: artista norte-americana)

 

Sobre o Tempo

 

Voa ínvido Tempo, até que o teu galope se esgote,

Apela à indolente e morosa marcha das horas,

Cujo trote não é mais que passos lerdos e plúmbeos;

Sacia-te com aquilo que o teu ventre devora,

Nada além do que se revela falso e vão,

E tão apenas resíduos mortais;

Tão pouca é a nossa perda;

Tão limitado é o teu ganho.

Pois quando cada coisa má tiveres sepultado

E, por fim, consumido teu ávido ego,

Então a longa Eternidade saudará nossa bem-aventurança

Com um beijo especial;

E a alegria nos invadirá como uma torrente,

Quando tudo o que é sinceramente bom

E perfeitamente divino,

Em meio à Verdade, à Paz e ao Amor,

Refulgir para sempre ao redor do Trono supremo

Daquele cujo um único olhar basta para nos tornar felizes;

Quando nossas almas, celestialmente guiadas, ascenderem,

Deixando para trás todas essas asperezas terrenas,

E ataviados com estrelas, firmarmos assento no ilimitado,

Triunfando sobre a Morte, o Acaso, e sobre ti, ó Tempo.

 

Referência:

 

MILTON, John. On time. In: __________. The poetical works of John Milton. Review by John Todd. Vol. IV (in 4 vols.). 5th ed. London, EN: Gilbert & Rivington Printers, 1852. p. 275-276. Disponível neste endereço. Acesso em: 12 out. 2024.

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