Evocando a incerteza,
a ansiedade e as expectativas de familiaridade em uma nova relação, este poema
explora a experiência do primeiro beijo entre duas pessoas que estão se conhecendo,
ainda nas primeiras etapas do affaire, imersas naquela sensação de estar ainda às
apalpadelas, com os olhos vendados, em busca de uma porta desconhecida que se abra
para um promissor horizonte.
Mas sem máscaras ou
falsas perspectivas, a protagonista do sexo feminino logo põe-se a imaginar um
passo adiante, quando terá que enfrentar a árida realidade e quotidianidade da
relação, sob uma provável rotina de longo prazo, tendo que suportar, ademais,
os efeitos da incômoda intrusão do mundo exterior em seus íntimos e arrebatados
momentos.
J.A.R. – H.C.
April Lindner
(n. 1962)
First Kiss
This collision of
teeth, of tongues and lips,
is like feeling for
the door
in a strange room,
blindfolded.
He imagines he knows
her
after four dates,
both of them taking pains
to laugh correctly,
to make eye contact.
She thinks at least
this long first kiss
postpones the moment
she’ll have to face
four white walls, the
kitchen table,
its bowl of dried petals
and nutmeg husks,
the jaunty yellow
vase with one jaunty bloom,
the answering machine’s
one bloodshot eye.
O Primeiro Beijo
(Leonid Afremov:
artista israelense)
O Primeiro Beijo
Essa colisão de
dentes, de línguas e lábios
é como tatear a porta
de um quarto
estranho, com os olhos vendados.
Ele imagina que a
conhece
depois de quatro
encontros, ambos se esforçando
para rir
corretamente, para fazer contato visual.
Ela pensa que, pelo
menos, esse longo primeiro beijo
posterga o momento em
que terá de enfrentar
quatro paredes
brancas, a mesa da cozinha,
sua tigela de pétalas
secas e cascas de noz-moscada,
o vistoso vaso
amarelo com uma flor atraente,
o único e congestionado
botão da secretária eletrônica.
Referência:
LINDNER, April. First
kiss. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems.
New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 337.
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