Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Adolfo Casais Monteiro - Não queiras ler o destino

Não obsediar-se com o que o destino há de nos trazer à presença – diz-nos o poeta –, porque, em seus mistérios, a existência é uma trilha que não se deixa perscrutar desde logo: a verdadeira sabedoria consiste em abraçar a incerteza – vivendo plenamente no presente, aceitando e valorizando cada momento –, em vez de tencionar prever e controlar o nosso fado.

 

Sugere Casais que a incerteza pode ter um sabor emocionalmente mais satisfatório do que a falsa certeza de ter o futuro em nossas mãos: viver cada hora como se fosse a última, porque a “linha do destino”, em nossas mãos, não passa de um indicativo miserando que os quiromantes empregam para, supostamente, decifrar o destino de uma pessoa que se mostra francamente vulnerável ante as obscuridades que a rodeiam.

 

J.A.R. – H.C.

 

Adolfo Casais Monteiro

(1908-1972)

 

Não queiras ler o destino

 

Fechada na tua mão

a linha do meu destino.

De ambos nós ignorado

o segredo do caminho.

Mas que importa ser oculta

a lei que nos tece a vida?

– entre nós tudo é mistério...

 

Antes o doce pungir

da incerteza pairando

sobre o dia de amanhã

que a pobre ilusão de termos

nas mãos o fio da vida.

Antes, incrédulos, receber

a dádiva de cada hora

como se a última fosse!

 

Não queiras ler o destino.

 

Os Três Destinos

(Paul Thumann: pintor alemão)

 

Referência:

 

MONTEIRO, Adolfo Casais. Não queiras ler o destino. In: __________. Poesias escolhidas. Prefácio de Jorge de Sena. Salvador, BA: Imprensa Oficial da Bahia, nov. 1960. p. 66. (Coleção ‘Tule’ / Série ‘Poesia’; v. 3)

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