Não obsediar-se com o
que o destino há de nos trazer à presença – diz-nos o poeta –, porque, em seus mistérios,
a existência é uma trilha que não se deixa perscrutar desde logo: a verdadeira
sabedoria consiste em abraçar a incerteza – vivendo plenamente no presente,
aceitando e valorizando cada momento –, em vez de tencionar prever e controlar
o nosso fado.
Sugere Casais que a incerteza
pode ter um sabor emocionalmente mais satisfatório do que a falsa certeza de
ter o futuro em nossas mãos: viver cada hora como se fosse a última, porque a “linha
do destino”, em nossas mãos, não passa de um indicativo miserando que os
quiromantes empregam para, supostamente, decifrar o destino de uma pessoa que
se mostra francamente vulnerável ante as obscuridades que a rodeiam.
J.A.R. – H.C.
Adolfo Casais
Monteiro
(1908-1972)
Não queiras ler o destino
Fechada na tua mão
a linha do meu
destino.
De ambos nós ignorado
o segredo do caminho.
Mas que importa ser
oculta
a lei que nos tece a
vida?
– entre nós tudo é
mistério...
Antes o doce pungir
da incerteza pairando
sobre o dia de amanhã
que a pobre ilusão de
termos
nas mãos o fio da
vida.
Antes, incrédulos,
receber
a dádiva de cada hora
como se a última fosse!
Não queiras ler o
destino.
Os Três Destinos
(Paul Thumann: pintor
alemão)
Referência:
MONTEIRO, Adolfo
Casais. Não queiras ler o destino. In: __________. Poesias escolhidas.
Prefácio de Jorge de Sena. Salvador, BA: Imprensa Oficial da Bahia, nov. 1960. p.
66. (Coleção ‘Tule’ / Série ‘Poesia’; v. 3)
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