Detive-me aqui a especular
que o poeta cubano talvez desejasse pôr em relevo, mediante estas descritivas linhas, as distinções
entre o alquimista do Ocidente – que investiga, sobretudo, formas de se
produzir ouro a partir da transmutação de outros metais –, e aquele que, no
Oriente, na China em particular, empenha-se mais em obter elixires, com o fim
último de se tornar imortal, ou, pelo menos, granjear saúde, longevidade e sabedoria.
Nos dias que correm, pode-se
tomar a alquimia como uma espécie de metáfora para o processo de
autorrealização e de renascimento anímico de cada ser humano, levando-o a um
nível superior de consciência e de refinamento do espírito, ou seja, autêntica ascese
de um plano tão apenas material a um outro mais elevado, em união com o seu
princípio divino.
J.A.R. – H.C.
José Lezama Lima
(1910-1976)
Sobre un grabado de
alquimia china
Debajo de la mesa
se ven como tres
puertas
de pequeños hornos,
donde se ven piedras
y varas ardiendo,
por donde asoma el
enano
que masca semillas
para el sueño.
Encima de la mesa
se ven tres cojines
grises y azules,
en dos de ellos hay
como figuras geométricas
hechas con huevos
irrompibles.
Al lado un jarrón sin
ornamento.
Pedazos de leña por
el suelo.
Un hombre curvado con
una balanza
pesa una cesta de
almendras.
La varilla de ébano
alcanza de inmediato
el fiel.
El hombre que vende
teme a los tres
pequeños hornos
que se esconden
debajo de la mesa.
Por allí deben salir
las figuras esperadas
que vendrán cuando el
pesador
logre el centro de la
canasta.
A su derecha el
hombre que contempla
absorto al pesador,
juega con unos
pájaros.
Gravura chinesa
(Autoria
desconhecida)
Sobre uma gravura de
alquimia chinesa
Debaixo da mesa
há três portas
de pequenos fornos,
onde se veem pedras e
varetas em chamas,
por onde assoma o
anão
a mastigar sementes soníferas.
Sobre a mesa
encontram-se três almofadas
cinzentas e azuis,
duas das quais com
figuras geométricas
compostas por ovos
inquebráveis.
Ao lado, um jarro sem
adornos.
Pedaços de lenha pelo
chão.
Um homem curvado
sobre uma balança
pesa uma cesta de
amêndoas.
O ponteiro de ébano
atinge de imediato o
fiel.
O homem que vende
inquieta-se com os
três pequenos fornos
escondidos debaixo da
mesa.
Por ali devem sair
as esperadas figuras
que hão de surgir
assim que o pesador
conseguir equilibrar a
canastra.
À sua direita, o
homem que contempla
absorto o pesador,
brinca com alguns
pássaros.
Referência:
LIMA, José Lezama. Sobre un grabado de alquimia china. In: __________. José Lezama Lima. Selección y nota introductoria de David Huerta. México, D.F.: UNAM (Coordinación de Difusión Cultural - Dirección de Literatura), 2007. p. 29. Disponível neste endereço. Acesso em: 28 mar. 2024.
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