O falante, neste
poema, aparentemente se depara com uma flor em forma de telefone e põe-se a
imaginar num diálogo telepático com a amante: falando a partir de outra flor sobre
o peitoril de uma janela, ela lhe pergunta sobre o que o falante teria
escutado, obtendo como resposta o argumento de que ela o teria chamado. A
amante, então, comenta que até pode ter pensado nisso, mas não expressou verbalmente
tal desejo. Seja como for, o falante, respondendo ao hipotético apelo, foi ter
com a amante.
A rigor, o poema tem
uma dicção aberta e o leitor pode levantar suposições o quanto possa, no que diz
respeito ao diálogo em apreço. O certo, nada obstante, é que o seu título não
pode ser apreendido literalmente pela materialidade física de um aparelho telefônico,
senão metaforicamente, com o sentido da mantença de um estado mental conectado
a uma voz que se escuta a distância.
J.A.R. – H.C.
Robert Frost
(1874-1963)
The Telephone
“When I was just as
far as I could walk
From here to-day,
There was an hour
All still
When leaning with my
head against a flower
I heard you talk.
Don’t say I didn’t,
for I heard you say –
You spoke from that
flower on the window sill –
Do you remember what
it was you said?”
“First tell me what
it was you thought you heard.”
“Having found the
flower and driven a bee away,
I leaned my head,
And holding by the
stalk,
I listened and I
thought I caught the word –
What was it? Did you
call me by my name?
Or did you say –
Someone said ‘Come’ –
I heard it as I bowed.”
“I may have thought
as much, but not aloud.”
“Well, so I came.”
Eugène Manet na Ilha
de Wight
(Berthe Morisot: pintora
francesa)
O Telefone
“E quando me afastei
o quanto pude
Hoje daqui,
Houve uma hora
Tranquila,
Em que, ao me
inclinar sobre uma flor,
Te ouvi falar.
Não me digas que não,
porque te ouvi dizer...
Falaste daquela flor
no parapeito da janela –
Lembras-te do que
disseste?”
“Primeiro dize-me o
que julgaste ter ouvido.”
“Tendo encontrado a
flor e afugentado uma abelha,
Inclinei a cabeça
E segurando a haste
Escutei e julguei ter
captado a palavra –
Qual era? Chamaste-me
pelo nome?
Ou disseste...
Alguém disse ‘Vem’ –
ouvi ao debruçar-me.”
“Talvez o tenha
pensado, mas não falei.”
“Pois bem, então eu
vim.”
Referência:
FROST, Robert. The telephone
/ O telefone. Tradução de Willy Lewin. In: MARQUES, Oswaldino (Organização e
Prólogo). O livro de ouro da poesia dos Estados Unidos: coletânea de
poemas norte-americanos. Edição bilíngue: inglês x português. Rio de Janeiro,
RJ: Ediouro & Tecnoprint, 1987. Em inglês: p. 122; em português: p. 123.
(Coleção ‘Universidade de Bolso’)
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