Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 21 de março de 2024

António Ramos Rosa - Vida e Poesia

Se o poema não vem a lume de um modo desembaraçado, dizendo aquilo a que se propõe diretamente, ele acaba por vir sob forma metalinguística, a discorrer sobre as razões pelas quais o poeta o desamparou em suas esquivanças, dado que carente de especial conteúdo ou de urgência para um quotidiano ávido de novidades.

 

Ausente a poesia no transcurso das horas, na fluência do momento presente, sobeja o recurso às vivências do passado ou às esperanças do porvir, aquelas – segundo o poeta – mais propensas às condutas dos homens, estas às das mulheres, com o que se sugere – parece-me – que os homens se encontram mais ou menos numa zona de conforto em relação à vida que levam, já não as mulheres, a sonharem com mudanças que lhes satisfaçam os anelos.

 

J.A.R. – H.C.

 

António Ramos Rosa

(1924-2013)

 

Vida e Poesia

 

O poema que não pode nascer trabalha para si só

durante o verão mantém vivos os membros

e esquiva-se sempre às minhas horas de ócio

é o poema eternamente repelido

o poema que ninguém quer e que não é vivido nunca

poema sem forma sem conteúdo especial sem urgência nenhuma

de viver ou de te dar os bons-dias

e assim os homens falarão do seu passado

e as mulheres do seu futuro

 

Em: “Sílex” (1980)

 

Um livro de cartas

(Claude Raguet Hirst: pintor norte-americano)

 

Referência:

 

ROSA, António Ramos. Vida e poesia. In: __________.  O poeta na rua: antologia portátil. Selecção e prefácio de Ana Paula Coutinho Mendes. 2. ed. Vila Nova de Famalicão, PT: Quasi Edições, 2005. p. 54.

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