Ao conjecturar que
toda realidade tangível se assemelha a um conjunto de ilustrações a explicitar
um texto ao fundo, carregado de incógnitos sentidos, o poeta logo depreende o
quanto essas imagens transitórias, autênticas formas arquitetadas por nuvens
passageiras, não têm substância para fazerem frente ao trânsito incólume dos
éons.
Na gênese das coisas
a palavra, o alfa primordial capaz de suscitar a engenhosidade das
representações do mundo. No fim, também, não mais que palavras a percutirem
sobre o profundo silêncio que separa um destino que se exaure a cada instante e
outro cuja amplitude de duração se desconhece.
J.A.R. – H.C.
Ahron Zeitlin
(1898-1973)
Text
We all –
stones, people,
little shards of glass in the sun,
tin cans, cats and
trees –
are ilustrations to a
text.
In some places they don’t
need us.
In some places they
only read the text –
the pictures fall off
like shriveled parts.
When a death-wind
blows in the deep grass
and clears off froom
the west all the pictures
that the clouds set
up – then
night comes e reads
the stars.
Perseu e Andrômeda
(Cavalier D’Arpino:
pintor italiano)
Texto
Nós todos –
pedra, gente, lascas
de vidro ao sol,
latas de conserva,
gatos e árvores –
somos ilustrações de
um texto.
Nalgum lugar não
precisam de nós.
Lá é lido o texto somente
–
os quadros caem como
partes mortas.
Quando a morte venta
na profunda relva
e remove do ocidente
todos os quadros
que as nuvens
construíram – então
vem a noite e lê as
estrelas.
Referências:
Em Inglês
ZEITLIN, Aaron. Text.
WHITMAN, Ruth (Sel. & Transl.). An anthology of modern yiddish poetry.
A bilingual edition: yiddish x english. Third edition, revised and enlarged.
Detroit, MI: Wayne State University Press, 1995. p. 207.
Em Português
ZEITLIN, Ahron. Texto. Tradução de J. Guinsburg. In: GUINSBURG, J.; TAVARES, Zulmira Ribeiro (Orgs.). Quatro mil anos de poesia. Desenhos de Paulina Rabinovich. São Paulo, SP: Perspectiva, 1960. p. 414. (Coleção “Judaica”; v. 12)
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