Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 28 de março de 2024

Carlos Germán Belli - Robô sublunar

Belli, nestas estâncias predicatórias ao robô sublunar – com versos sem rimas, embora metrificados alternadamente com seis e dez sílabas poéticas –, esmera-se em dar curso, em determinadas linhas, a construções hiperbáticas, como se tencionasse deslocar o leitor de sua zona de conforto cognitiva.

 

Mantendo o arranjo sintático da redação original, verti o poema ao português sem tornar direto o discurso, para que o internauta perceba o quanto a ordem em que dispostas as palavras suscita perplexidades em nossas mentes, demandando maior esforço de assimilação, quase como se desconhecêssemos as formas de construção verbal assemelhadas dos dois idiomas.

 

J.A.R. – H.C.

 

Carlos Germán Belli

(n. 1927)

 

Robot sublunar

 

¡Oh robot sublunar!

por entre cuya fúlgida cabeza

la diosa Cibernética

el pleno abecé humano puso oculto,

cual indeleble sello,

en las craneales arcas para siempre;

 

envídiolo yo cuánto

porque en el escolar malsano cepo

por suerte se vio nunca

un buen rato de su florida edad,

ni su cráneo fue polvo

en los morteros de la ilustración;

 

que tal robot dichoso

las gordas letras persiguió jamás,

y antes bien engranaron

en las dentadas ruedas de su testa,

no más al concebirlo

el óvulo fabril de la mecánica;

 

y más lo envidio yo,

porque a sí mismo bástase seguro,

y ágil cual deportista,

de acá para acullá expedito vive,

sin el sanguíneo riego

del ayer, hoy, mañana ineludible.

 

Robô pintando um autorretrato

(Johan Scherft: artista holandês)

 

Robô sublunar

 

Ó robô sublunar!

por entre cuja fúlgida cabeça

a deusa Cibernética

o completo alfabeto humano pôs oculto,

qual indelével selo,

nas cranianas calotas para sempre;

 

invejo-o eu quanto

porque no escolar malsão cepo

por sorte se viu nunca

um bom lapso de sua florida idade,

nem seu crânio foi pólvora

nos morteiros da ilustração;

 

que tal robô ditoso

as gordas letras perseguiu jamais,

longe disso, engrenaram

nas dentadas rodas de sua testa,

não mais ao concebê-lo

o óvulo fabril da mecânica;

 

e mais o invejo eu,

porque a si mesmo basta-se seguro,

e ágil qual desportista,

daqui para ali expedito vive,

sem a sanguínea irrigação

do ontem, do hoje, do amanhã ineludível.

 

Nota:

 

A seguir, rápidas paráfrases das estrofes do poema, com o objetivo de tornar mais imediata a assimilação do quanto por meio delas se exprime:

 

I. Ó robô sublunar, em cuja cabeça brilhante a deusa Cibernética ocultou para sempre o alfabeto humano completo, como um selo inapagável, em suas calotas cranianas.

 

II. Quanto eu o invejo, porque, na mórbida clausura escolar, por sorte nunca se o viu na flor da idade por um bom lapso de tempo, tampouco se testemunhou o seu crânio virar pólvora nos morteiros da ilustração.

 

III. As gordas letras jamais foram perseguidas por tal robô ditoso, longe disso, ao deixarem de concebê-lo como o óvulo fabril da mecânica, acabaram elas por se engrenar nas rodas dentadas de sua testa.

 

IV. E mais ainda eu o invejo, porque é seguro de si e ágil como um atleta, movendo-se com iniciativa daqui para ali, sem a irrigação sanguínea do ontem, do hoje, do inevitável amanhã.

 

Referência:

 

BELLI, Carlos Germán. Robot sublunar. In: AA.VV. Carlos Germán Belli: un punto incandescente. 1. ed. dig. Lima, PE: Vallejo & Co., set. 2021. p 207.

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