O falante captura imagens da natureza e as metaforiza para pormenorizar um encontro erótico com sua companheira, de forma a traduzir toda a voluptuosidade dos contatos, dos afagos, do ato sexual propriamente dito, do atingimento de um clímax mediante o orgasmo.
O jogo sensual das palavras sugere a mais expressiva carnalidade, sem ceder espaço a uma redação impudente e fácil, capturando assim a poesia da sexualidade. Não sem motivos, entre o erotismo e a poesia, Octavio Paz já enfatizava em “La llama doble: amor y erotismo”, de 1993, essa incontestável afinidade: “o primeiro é uma metáfora da sexualidade; a segunda, uma erotização da linguagem.” (1994, p. 49)
J.A.R. – H.C.
João-Francisco Duarte
Jr.
(n. 1953)
Natureza
para Li
Nas árvores e até o
outono
já se inventam
redondoces
as laranjas.
Enquanto eu,
colho os teus seios
e sei-os
frutos de uma álacre
floração.
Por mais que vergaste
o tempo
a missão da vida se
cumpre
no pomar.
Terra em fértil
mês de aluvião,
teu corpo
me convida – semente –
a brotar.
A carne do solo se entrega
ao geométrico amor
das raízes.
E entre as lúbricas
paineiras de
tuas coxas
floresço em espasmos
de jasmim.
Duas figuras na
paisagem
(Cecily Brown: pintora
inglesa)
Referências:
DUARTE JR.,
João-Francisco. Natureza. In: BRITO, Heládio; MORAIS, Regis de et al. Oficina:
exercícios do ofício da poesia. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 2001. p. 88.
(Edição Comemorativa Limitada)
PAZ, Octavio. A
dupla chama: amor e erotismo. Tradução de Wladyr Dupont. São Paulo, SP:
Siciliano, 1994.
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