Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 5 de março de 2024

João-Francisco Duarte Jr. - Natureza

O falante captura imagens da natureza e as metaforiza para pormenorizar um encontro erótico com sua companheira, de forma a traduzir toda a voluptuosidade dos contatos, dos afagos, do ato sexual propriamente dito, do atingimento de um clímax mediante o orgasmo.


O jogo sensual das palavras sugere a mais expressiva carnalidade, sem ceder espaço a uma redação impudente e fácil, capturando assim a poesia da sexualidade. Não sem motivos, entre o erotismo e a poesia, Octavio Paz já enfatizava em “La llama doble: amor y erotismo”, de 1993, essa incontestável afinidade: “o primeiro é uma metáfora da sexualidade; a segunda, uma erotização da linguagem.” (1994, p. 49)


J.A.R. – H.C.

 

João-Francisco Duarte Jr.

(n. 1953)

 

Natureza

 

para Li

 

Nas árvores e até o outono

já se inventam redondoces

as laranjas.

Enquanto eu,

colho os teus seios

e sei-os

frutos de uma álacre floração.

 

Por mais que vergaste o tempo

a missão da vida se cumpre

no pomar.

Terra em fértil

mês de aluvião,

teu corpo

me convida – semente – a brotar.

 

A carne do solo se entrega

ao geométrico amor

das raízes.

E entre as lúbricas

paineiras de

tuas coxas

floresço em espasmos de jasmim.

 

Duas figuras na paisagem

(Cecily Brown: pintora inglesa)

 

Referências:

 

DUARTE JR., João-Francisco. Natureza. In: BRITO, Heládio; MORAIS, Regis de et al. Oficina: exercícios do ofício da poesia. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 2001. p. 88. (Edição Comemorativa Limitada)

 

PAZ, Octavio. A dupla chama: amor e erotismo. Tradução de Wladyr Dupont. São Paulo, SP: Siciliano, 1994.

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