Marina nos fala do
quanto é frágil a vida, esse trânsito que se passa enquanto o coração se
compraz em pulsar em seu duplo movimento – sístole e diástole –, representação
categórica para o que se expande e volta a ser reabsorvido por nosso corpo, até
que a última das quatro válvulas cardíacas empreenda o seu derradeiro “esforço”
– e tudo se vá pelos ares!
Cessando também a
respiração, sobrevém a morte e, com ela, o sol se precipita na escuridão e entornam-se
as estrelas da Via Láctea, tais palavras a sugerirem, graciosamente, muito mais
a falência do mundo em derredor – extrínseca portanto ao corpo –, do que, verdadeiramente,
a completa e privativa cessação do sopro vital.
J.A.R. – H.C.
Marina Colasanti
(n. 1937)
No exato momento
Tão passageira a
vida,
e é só o que temos.
E a tudo o que nela
cabe
damos importância,
quando o que conta é
o trânsito
de ar e sangue
que sístole e
diástole garantem.
Haverá adiante
um ponto de mudez
e o último esforço
das válvulas
uma e outra
arremessando o sol na
escuridão
e entornando as
estrelas
da Via Láctea.
Vida Frágil
(Ivan Krasiuk: artista
canadense)
Referência:
COLASANTI, Marina. No
exato momento. In: __________. Mais longa vida: poesia. 1. ed. Rio de
Janeiro, RJ: Record, 2020. p. 57.
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