O poeta acerca-se da máxima heraclitiana, conferindo-lhe uma nova redação – “o princípio é o movimento, a correnteza do efêmero” –, enfatizando ainda o poder que temos de nomear as coisas por meio da linguagem, como se fora o modo de mantermos na memória aquilo que um dia nos acompanhou, mas que submergiu no rio fugaz da temporalidade.
Tal é a correnteza
onde se dão os ritmos reiterados da vida; o caráter cíclico da evolução; a
permanência do ser sob a fugacidade do movimento, nos interstícios entre uma
gênese e um óbito. Entrementes, sentimos a sede do absoluto com tanta água ao
nosso redor. “Homo humus; fama fumus; finis cinis”.
J.A.R. – H.C.
Aricy Curvello
(n. 1945)
correnteza
o que sempre some,
tudo tem um nome,
mas sabemos
pouquíssimo da dor,
do obscuro poder do
destino,
do tempo que é
matéria perecível.
muito que temos por
conhecimento
é só linguagem, porém
nada é só palavra:
o jamais cessado,
o eterno fugaz,
o princípio é o
movimento,
a correnteza do
efêmero.
Nuvem baixa: costa de
Sussex
(Hannah Ivory Baker:
artista inglesa)
Referência:
CURVELLO, Aricy. correnteza. In: __________. 50 poemas escolhidos pelo autor: Aricy Curvello. Rio de Janeiro, RJ: Edições Galo Branco, 2007. p. 68. (Coleção ‘50 poemas escolhidos pelo autor’; v. 25)
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