Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 24 de março de 2024

Aricy Curvello - correnteza

O poeta acerca-se da máxima heraclitiana, conferindo-lhe uma nova redação – “o princípio é o movimento, a correnteza do efêmero” –, enfatizando ainda o poder que temos de nomear as coisas por meio da linguagem, como se fora o modo de mantermos na memória aquilo que um dia nos acompanhou, mas que submergiu no rio fugaz da temporalidade.

 

Tal é a correnteza onde se dão os ritmos reiterados da vida; o caráter cíclico da evolução; a permanência do ser sob a fugacidade do movimento, nos interstícios entre uma gênese e um óbito. Entrementes, sentimos a sede do absoluto com tanta água ao nosso redor. “Homo humus; fama fumus; finis cinis”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Aricy Curvello

(n. 1945)

 

correnteza

 

o que sempre some,

tudo tem um nome,

mas sabemos pouquíssimo da dor,

do obscuro poder do destino,

do tempo que é matéria perecível.

 

muito que temos por conhecimento

é só linguagem, porém

 

nada é só palavra:

o jamais cessado,

o eterno fugaz,

 

o princípio é o movimento,

a correnteza do efêmero.

 

Nuvem baixa: costa de Sussex

(Hannah Ivory Baker: artista inglesa)

 

Referência:

 

CURVELLO, Aricy. correnteza. In: __________. 50 poemas escolhidos pelo autor: Aricy Curvello. Rio de Janeiro, RJ: Edições Galo Branco, 2007. p. 68. (Coleção ‘50 poemas escolhidos pelo autor’; v. 25)

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