Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 6 de março de 2024

Dietrich Bonhoeffer - Quem sou eu?

Redigido na prisão, em meados de jul/1944, este poema retrata o medo, a indignação e a turbulência interior pelos quais então passava o teólogo e membro da resistência alemã ao nazismo, em conflito com o que lhe parecia inautêntico em si mesmo, com a sua própria identidade, à vista de que, sob dúvidas atrozes acerca de quem de fato fosse, remanesceu-lhe a graça de depositar em Deus, seu fiel senhorio, a certeza de um genuíno conhecimento.

 

Trata-se, como se vê, de um comovente testemunho de resiliência, mesmo em meio às maiores provações e indignidades, pela via da constância de um comportamento pacífico e nobre de um homem frágil, mas que se pauta por afirmar a sua humanidade em circunstâncias hediondas, desumanas, no mínimo desapiedadas.

 

J.A.R. – H.C.

 

Dietrich Bonhoeffer

(1906-1945)

 

Wer bin ich?

 

Wer bin ich? Sie sagen mir oft,

ich träte aus meiner Zelle

gelassen und heiter und fest,

wie ein Gutsherr aus seinem Schloß.

 

Wer bin ich? Sie sagen mir oft,

ich spräche mit meinen Bewachern

frei und freundlich und klar,

als hätte ich zu gebieten.

 

Wer bin ich? Sie sagen mir auch,

ich trüge die Tage des Unglücks

gleichmütig lächelnd und stolz,

wie einer, der Siegen gewohnt ist.

 

Bin ich das wirklich, was andere von mir sagen?

Oder bin ich nur das, was ich selbst von mir weiß?

Unruhig, sehnsüchtig, krank, wie ein Vogel im Käfig,

ringend nach Lebensatem, als würgte mir einer die Kehle,

hungernd nach Farben, nach Blumen, nach Vogelstimmen,

dürstend nach guten Worten, nach menschlicher Nähe,

zitternd vor Zorn über Willkür und kleinlichste Kränkung,

umgetrieben vom Warten auf große Dinge,

ohnmächtig bangend um Freunde in endloser Ferne,

müde und leer zum Beten, zum Denken, zum Schaffen,

matt und bereit, von allem Abschied zu nehmen?

 

Wer bin ich? Der oder jener?

Bin ich denn heute dieser und morgen ein andrer?

Bin ich beides zugleich? Vor Menschen ein Heuchler

und vor mir selbst ein verächtlich wehleidiger Schwächling?

Oder gleicht, was in mir noch ist, dem geschlagenen Heer,

das in Unordnung weicht vor schon gewonnenem Sieg?

 

Wer bin ich? Einsames Fragen treibt mit mir Spott.

Wer ich auch bin, Du kennst mich, Dein bin ich, o Gott!

 

Desalento

(Srecko Radivojcevic: artista sérvio)

 

Quem sou eu?

 

Quem sou eu? Seguidamente me dizem

que saio da minha cela

tão sereno, alegre e firme

qual dono de um castelo.

 

Quem sou eu? Seguidamente me dizem

que da maneira como falo aos guardas,

tão livremente, como amigo e com clareza,

parece que esteja mandando.

 

Quem sou eu? Também me dizem

que suporto os dias do infortúnio

impassível, sorridente e com orgulho

como alguém que se acostumou a vencer.

 

Sou mesmo o que os outros dizem de mim?

Ou apenas sou o que sei de mim mesmo?

Inquieto, saudoso e doente, como um passarinho na gaiola,

sempre lutando por ar, como se me sufocassem,

faminto de cores, de flores, às vezes de pássaros,

sedento de palavras boas, de proximidade humana,

tremendo de ira a respeito da arbitrariedade e ofensa mesquinha,

nervoso à espera de grandes coisas,

em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,

cansado e vazio até para orar, para pensar, para produzir,

desanimado e pronto para me despedir de tudo?

 

Quem sou eu? Este ou aquele?

Sou hoje este e amanhã um outro?

Sou porventura tudo ao mesmo tempo? Perante as pessoas

um hipócrita?

E um covarde, miserável diante de mim mesmo?

Ou será que aquilo que ainda em mim perdura, seja como um exército

em derradeira fuga, à vista da vitória já ganha?

 

Quem sou eu? A própria pergunta nesta solidão de mim parece

pretender zombar.

Quem quer, porém, que eu seja, Tu me conheces, ó meu Deus:

sou Teu.

 

(Verão de 1944)

 

Referências:

 

Em Alemão

 

BONHOEFFER, Dietrich. Wer bin ich? Disponível neste endereço. Acesso em: 27 fev. 2024.

 

Em Português

 

BONHOEFFER, Dietrich. Quem sou eu? Tradução de Nélio Schneider. In: __________. Resistência e submissão: cartas e anotações escritas na prisão. Editado por Christian Gremmels, Eberhard Bethge e Renate Bethge, em cooperação com Ilse Tödt. São Leopoldo, RS: Sinodal; Escola Superior de Teologia (EST), 2003. p. 468-469.

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