Individualizados por
uma reiterada pontuação com vírgulas, talvez propositadamente ambivalente, a
poetisa espanhola impõe a alguns de seus versos entonações que ficam bem quer em
associação discursiva com o verso anterior, quer com o subsequente – isto quando
a linha, notoriamente, pela forma do verbo empregado, não dá sequência a uma
nova ideia.
As inflexões impostas
ao poema, de todo modo, permitem inferir sobre a presença de um ‘self’ segmentado
em mil experiências de vida, mas que, em seu conjunto, não integram a plenitude
de uma identidade coesiva, fazendo com que fala e escrita não digam tudo o que
se passa pelo pensamento da falante – seus sonhos, suas probas concepções de
mundo –, sendo então consumidas por uma “ortografia florida”, a ocultar as sobreditas
limitações que lhe vão no interno.
J.A.R. – H.C.
Nuria Amat
(n. 1950)
No escribo como hablo
No escribo como
hablo,
ni hablo como pienso,
ni pienso como pensar
debiera,
un juicio de bien,
partido en mil mitades,
consume sus
discursos,
en florida
ortografía,
para que nadie
entienda
la limitación de mi
armadura,
que no encuentra su
escondrijo,
apartada de sus
sueños,
se aventura en
demostrar
las variadas vidas,
que algún día dieron
luz
a mi identidad robada.
Por trás das palavras
(Stephanie Daverdon:
artista francesa)
Não escrevo como falo
Não escrevo como
falo,
nem falo como penso,
nem penso como pensar
deveria,
um juízo de bem,
dividido em mil
metades,
consome seus
discursos,
em florida
ortografia,
para que ninguém
compreenda
a limitação de minha
armadura,
que não encontra seu
esconderijo,
separada de seus
sonhos,
aventura-se a
demonstrar
as variadas vidas,
que algum dia deram
luz
à minha identidade
roubada.
Referência:
AMAT, Nuria. No
escribo como hablo. In: __________. Poemas impuros. 1. ed. Barcelona,
ES: Bruguera, feb. 2008. p. 13.
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