Redigido por Hauptmann
em meados de 1933, este poema põe em relevo o estado angustioso do poeta
durante o período imediatamente anterior à 2GM, vislumbrando no futuro próximo
como que uma reprise de cenas já antes testemunhas durante o primeiro conflito
mundial, cujos rastros ainda se encontravam então visíveis, sobretudo no
continente europeu.
A imagística
empregada pelo dramaturgo e poeta acercar-se do espectral, do fantasmagórico, a
bem caracterizar um pesadelo durante o qual um ser humano morto, quiçá em
estado de decomposição, envolto numa paz enganosa, sintetiza o nada a que foram
reduzidos milhares que sucumbiram no curso da brutal conflagração precedente.
J.A.R. – H.C.
Gerhart Hauptmann
(1862-1946)
Schatten der Gewalt
Wüsst ich, was der
ewige Geist
mir im Traume wies –
er, den Erd und
Himmel preist –
als er mich verstiess
in der fremden Wüste
Rot
aus dem Meer der
Zeit,
preisgegeben aller
Not
in der Ewigkeit.
Und ich stand im
Glutensand
gestern nicht noch
heut
war dem Pulsenden
bekannt!
Und von nichts
betreut,
stand ich
ausgestossen da,
niemand zugetan,
fremd war alles, was
ich sah,
alles Schain und
Wahn.
Und ein Wessen – war’s
ein Mann? –
glutensandverwühlt,
sah mich fremd und
schweigend an,
kalt und ungefühlt.
Irgendwie war ich
ergötzt,
als ich Garben sah.
wie von Menschenhand
gesetzt:
war ich Menschen nah?
Doch mich traf’s wie
stummer Schrei;
es war leeres Stroh!
Ach, die Ernte war
vorbei
und der Weizen wo?
Sinnend über das
Gesicht,
traumhaft, stand ich
da,
als ich in dem
Glutensand,
Weder Mann noch Weib,
schweigend-nackt, im Totenbann,
stand der stumme
Leib.
Hat die phinx dich
ausgesandt?
Frat es irgendwo.
Doch da dreht er blöd
die Hand,
zuckend lichterloh!
Frage niemand, wer
ich bin
und auch nicht wer
du.
Fragen ist hier ohne
Sinn!
die lebendige Ruh’
scheinet leerer um
uns her.
Trau nicht der
Gestalt:
denn wir beide sind
nur mehr
Schatten der Gewalt.
Fora das Sombras
(Deborah Nell: pintora
norte-americana)
Sombras da Violência
Soubesse eu o que em
sonho me revelou
O Espírito Eterno
– Ele a quem louvam
Terra e Céu –
Quando do mar do
tempo
Me lançou a este
deserto vermelho,
Abandonado para todo
o sempre
A todas as misérias!
Ali fiquei na areia
ardente
Sem noção do dia de
ontem nem do dia de amanhã!
Desamparado de tudo,
Desapegado de todos,
Tudo o que viam meus
olhos
Me era estranho,
Tudo aparência e
ilusão.
Uma criatura – seria
um homem?
Me encarava na areia
abrasada,
Alheado e taciturno,
Frio e insensível.
De certo modo me
regozijei
Ao ver ali uns feixes
Que pareciam arrumados
por mão humana:
Estaria eu perto dos
homens?
Mas reconheci num
como grito mudo
Que era palha vazia!
Ah, a colheita
acabou,
E onde está o trigo?
Meditando como em
sonho
Sobre aquela aparição,
Ali quedei na areia
ardente,
Em face do corpo mudo,
nem homem nem mulher,
Na sua silenciosa
nudez, paralisado pela morte.
“Vens da parte da
Esfinge?” perguntaram não sei donde.
Então, erguendo às
cegas a mão
E subitamente
inflamado, palpitante:
“Não pergunte ninguém
quem eu seja
Nem quem sejas”, falou.
“As perguntas aqui
não têm sentido!
A paz das coisas parece
mais vazia em torno de nós.
Não te fies das aparências:
Pois já não somos
ambos
Senão sombras da
violência.”
Referências:
Em Alemão
HAUPTMANN, Gerhart. Schatten
der gewalt. Disponível neste endereço (p. 61-62). Acesso
em: 10 mar. 2024.
Em Português
HAUPTMANN, Gerhart. Sombras
da violência. Tradução de Manuel Bandeira. In: BANDEIRA, Manuel. Poemas
traduzidos. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956. p. 40-41.
(Coleção ‘Rubáiyát’)
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