Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 14 de março de 2024

Gerhart Hauptmann - Sombras da Violência

Redigido por Hauptmann em meados de 1933, este poema põe em relevo o estado angustioso do poeta durante o período imediatamente anterior à 2GM, vislumbrando no futuro próximo como que uma reprise de cenas já antes testemunhas durante o primeiro conflito mundial, cujos rastros ainda se encontravam então visíveis, sobretudo no continente europeu.

 

A imagística empregada pelo dramaturgo e poeta acercar-se do espectral, do fantasmagórico, a bem caracterizar um pesadelo durante o qual um ser humano morto, quiçá em estado de decomposição, envolto numa paz enganosa, sintetiza o nada a que foram reduzidos milhares que sucumbiram no curso da brutal conflagração precedente.

 

J.A.R. – H.C.

 

Gerhart Hauptmann

(1862-1946)

 

Schatten der Gewalt

 

Wüsst ich, was der ewige Geist

mir im Traume wies –

er, den Erd und Himmel preist –

als er mich verstiess

in der fremden Wüste Rot

aus dem Meer der Zeit,

preisgegeben aller Not

in der Ewigkeit.

Und ich stand im Glutensand

gestern nicht noch heut

war dem Pulsenden bekannt!

Und von nichts betreut,

stand ich ausgestossen da,

niemand zugetan,

fremd war alles, was ich sah,

alles Schain und Wahn.

Und ein Wessen – war’s ein Mann? –

glutensandverwühlt,

sah mich fremd und schweigend an,

kalt und ungefühlt.

Irgendwie war ich ergötzt,

als ich Garben sah.

wie von Menschenhand gesetzt:

war ich Menschen nah?

Doch mich traf’s wie stummer Schrei;

es war leeres Stroh!

Ach, die Ernte war vorbei

und der Weizen wo?

Sinnend über das Gesicht,

traumhaft, stand ich da,

als ich in dem Glutensand,

Weder Mann noch Weib,

schweigend-nackt, im Totenbann,

stand der stumme Leib.

Hat die phinx dich ausgesandt?

Frat es irgendwo.

Doch da dreht er blöd die Hand,

zuckend lichterloh!

Frage niemand, wer ich bin

und auch nicht wer du.

Fragen ist hier ohne Sinn!

die lebendige Ruh’

scheinet leerer um uns her.

Trau nicht der Gestalt:

denn wir beide sind nur mehr

Schatten der Gewalt.

 

Fora das Sombras

(Deborah Nell: pintora norte-americana)

 

Sombras da Violência

 

Soubesse eu o que em sonho me revelou

O Espírito Eterno

– Ele a quem louvam Terra e Céu –

Quando do mar do tempo

Me lançou a este deserto vermelho,

Abandonado para todo o sempre

A todas as misérias!

Ali fiquei na areia ardente

Sem noção do dia de ontem nem do dia de amanhã!

Desamparado de tudo,

Desapegado de todos,

Tudo o que viam meus olhos

Me era estranho,

Tudo aparência e ilusão.

Uma criatura – seria um homem?

Me encarava na areia abrasada,

Alheado e taciturno,

Frio e insensível.

De certo modo me regozijei

Ao ver ali uns feixes

Que pareciam arrumados por mão humana:

Estaria eu perto dos homens?

Mas reconheci num como grito mudo

Que era palha vazia!

Ah, a colheita acabou,

E onde está o trigo?

Meditando como em sonho

Sobre aquela aparição,

Ali quedei na areia ardente,

Em face do corpo mudo, nem homem nem mulher,

Na sua silenciosa nudez, paralisado pela morte.

“Vens da parte da Esfinge?” perguntaram não sei donde.

Então, erguendo às cegas a mão

E subitamente inflamado, palpitante:

“Não pergunte ninguém quem eu seja

Nem quem sejas”, falou.

“As perguntas aqui não têm sentido!

A paz das coisas parece mais vazia em torno de nós.

Não te fies das aparências:

Pois já não somos ambos

Senão sombras da violência.”

 

Referências:

 

Em Alemão

 

HAUPTMANN, Gerhart. Schatten der gewalt. Disponível neste endereço (p. 61-62). Acesso em: 10 mar. 2024.

 

Em Português

 

HAUPTMANN, Gerhart. Sombras da violência. Tradução de Manuel Bandeira. In: BANDEIRA, Manuel. Poemas traduzidos. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956. p. 40-41. (Coleção ‘Rubáiyát’)

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