Muitas são as
manifestações de Deus: alguns as reputam transcendentes, outros imanentes, não
se separando da natureza ao nosso redor. E disso resultam diferentes pontos de
vista que, no limite, suscitam conflitos insanos, sobretudo quando as partes em
discórdia reivindicam o conhecimento de verdades absolutas com fulcro em
revelações divinas ou, mesmo, em direitos distintivos.
Rumi reassume a figura
de Deus como um pai que nos gerou – não temos, todos, um só pai?! –, a quem
louvores são dirigidos, equivocadamente, muitas vezes aos seus reflexos, os
quais, em última instância, acabam por se consolidar em elemento motor de todas
as divergências.
Mas não! Muito embora
as coisas aparentem ser tão individuais, tão ilusoriamente particionadas, no
fundo, tudo quanto existe acaba por revelar a mesma essência, a mesma
substância que nos reata aos genes da Unidade primordial.
J.A.R. – H.C.
Jalaluddin Rumi
(1207-1273)
Todas as religiões
são em essência uma e a mesma
Nas adorações e
bênçãos dos homens retos
Acham-se reunidos os
louvores de todos os profetas.
Todos os seus
louvores são misturados em uma corrente única,
Todos os vasos são
esvaziados em um único recipiente.
Porque Aquele que é
louvado é, na verdade, só Um;
Nesse aspecto, todas
as religiões são uma só religião.
Porque todos os
louvores são dirigidos à luz de Deus,
Suas variadas formas
e figuras são tomadas de empréstimo dela.
Os homens apenas
dirigem louvores a Um que seja considerado
merecedor;
Erram apenas por
causa de opiniões equivocadas sobre Ele.
Por isso, quando uma
luz cai sobre um muro,
Esse muro é o elemento
de ligação entre todos os seus raios;
Porém, quando ele
lança essa reflexão de volta à sua fonte,
Mostra erradamente o
grande como pequeno, e é defeituoso
em seus louvores.
Ou se a lua é
refletida em um poço,
E alguém olha para
dentro do poço, e por engano louva-a,
Sua intenção, na
realidade, é louvar a lua,
Embora, por
ignorância, esteja olhando para dentro do poço.
O objeto de seus
louvores é a lua, não seu reflexo;
Sua infidelidade
nasce do engano das circunstâncias.
Esse homem bem-intencionado
erra por causa de seu engano;
A lua está no céu, e
ele a imagina dentro do poço.
Esses falsos ídolos
confundem a humanidade,
E desejos vãos a
levam para sua tristeza.
Todas as religiões
são apenas uma
(Gravura de autoria desconhecida)
Referência:
RUMI, Jalaluddin.
Todas as religiões são em essência uma e a mesma. Tradução de Mônica Udler
Cromberg e Ana Maria Sarda. In: RUMI, Jalaluddin. Masnavi. Tradução ao
português por Mônica Udler Cromberg e Ana Maria Sarda, a partir da edição
inglesa, traduzida por E. H. Whinfield sob o título “Masnavi I Ma’navi: Teachings
of Rumi – The Spiritual Couplets of Maulana Jalalu-’D-Din Muhammad I Rumi”. Rio
de Janeiro, RJ: Edições Dervish, 1992. p. 174-175.
❁
Belíssimo.
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