Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 22 de março de 2024

Rumi - Todas as religiões são em essência uma e a mesma

Muitas são as manifestações de Deus: alguns as reputam transcendentes, outros imanentes, não se separando da natureza ao nosso redor. E disso resultam diferentes pontos de vista que, no limite, suscitam conflitos insanos, sobretudo quando as partes em discórdia reivindicam o conhecimento de verdades absolutas com fulcro em revelações divinas ou, mesmo, em direitos distintivos.

 

Rumi reassume a figura de Deus como um pai que nos gerou – não temos, todos, um só pai?! –, a quem louvores são dirigidos, equivocadamente, muitas vezes aos seus reflexos, os quais, em última instância, acabam por se consolidar em elemento motor de todas as divergências.

 

Mas não! Muito embora as coisas aparentem ser tão individuais, tão ilusoriamente particionadas, no fundo, tudo quanto existe acaba por revelar a mesma essência, a mesma substância que nos reata aos genes da Unidade primordial.

 

J.A.R. – H.C.

 

Jalaluddin Rumi

(1207-1273)

 

Todas as religiões são em essência uma e a mesma

 

Nas adorações e bênçãos dos homens retos

Acham-se reunidos os louvores de todos os profetas.

Todos os seus louvores são misturados em uma corrente única,

Todos os vasos são esvaziados em um único recipiente.

Porque Aquele que é louvado é, na verdade, só Um;

Nesse aspecto, todas as religiões são uma só religião.

Porque todos os louvores são dirigidos à luz de Deus,

Suas variadas formas e figuras são tomadas de empréstimo dela.

Os homens apenas dirigem louvores a Um que seja considerado

merecedor;

Erram apenas por causa de opiniões equivocadas sobre Ele.

Por isso, quando uma luz cai sobre um muro,

Esse muro é o elemento de ligação entre todos os seus raios;

Porém, quando ele lança essa reflexão de volta à sua fonte,

Mostra erradamente o grande como pequeno, e é defeituoso

em seus louvores.

Ou se a lua é refletida em um poço,

E alguém olha para dentro do poço, e por engano louva-a,

Sua intenção, na realidade, é louvar a lua,

Embora, por ignorância, esteja olhando para dentro do poço.

O objeto de seus louvores é a lua, não seu reflexo;

Sua infidelidade nasce do engano das circunstâncias.

Esse homem bem-intencionado erra por causa de seu engano;

A lua está no céu, e ele a imagina dentro do poço.

Esses falsos ídolos confundem a humanidade,

E desejos vãos a levam para sua tristeza.

 

Todas as religiões são apenas uma

(Gravura de autoria desconhecida)

 

Referência:

 

RUMI, Jalaluddin. Todas as religiões são em essência uma e a mesma. Tradução de Mônica Udler Cromberg e Ana Maria Sarda. In: RUMI, Jalaluddin. Masnavi. Tradução ao português por Mônica Udler Cromberg e Ana Maria Sarda, a partir da edição inglesa, traduzida por E. H. Whinfield sob o título “Masnavi I Ma’navi: Teachings of Rumi – The Spiritual Couplets of Maulana Jalalu-’D-Din Muhammad I Rumi”. Rio de Janeiro, RJ: Edições Dervish, 1992. p. 174-175.

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