A beleza, já por si,
é eternidade, senda do inesgotável, segundo o poeta, um meteoro que nos convoca
a um encontro impossível num momento qualquer, difícil de se prever: o
arquétipo da deambulação fatigante por uma noite escura, ao encalço dos
sussurros que nos chegam aos ouvidos, arrima essa visão que se fixa num broquel
de um amanhecer que se pretende doce e resplandecente, mas cujo sentido é de
difícil apreensão.
Percebe-se o afã do
poeta por uma paradisíaca comunhão com a beleza, em suas múltiplas formas,
visando dar conteúdo ao seu ofício e, por extensão, à sua própria existência,
para, por conjectura, protrair o quanto possa a continuidade de suas palavras, vale
dizer, autêntico meio de condensação verbal do que lhe vai perante os olhos.
J.A.R. – H.C.
Carlos Bousoño
(1923-2015)
Definición de la
Belleza
Sí, la belleza es
eternidad y trasciende por tanto
a la aparición de su
meteoro, el instante
en que la nieve cae y
el bosque resplandece
de blancura soñada,
en el amanecer
dulcísimo. Trasciende
el vasto espacio,
la soberana luz. Pues
la belleza
es más un camino que
un fin y no se agota,
como un sendero
inconfortable que seguimos fatigados
en una noche escura,
impulsados por una
ansiedad, por un llamamiento,
por una voz que nos
tartamudea y convoca
a una reunión imposible
en una hora de
difícil
cálculo. Es imposible
conocer
el sentido de la
llamada, oir com nitidez
los susurros de la
oscuridad.
Reunindo-se com a
Beleza
(Sherrie Lovler:
artista norte-americana)
Definição da Beleza
Sim, a beleza é eternidade
e, portanto, transcende
à aparição de seu
meteoro, o instante
em que a neve cai e o
bosque resplandece
com uma alvura de
sonho, no mais doce
amanhecer. Transcende
o vasto espaço,
a luz soberana. Pois
a beleza
é mais um caminho que
um fim, e não se esgota,
como uma trilha
desconfortável que percorremos fatigados
numa noite escura,
movidos por uma
ansiedade, por um chamamento,
por uma voz que nos
balbucia e convoca
a um encontro
impossível,
em uma hora difícil
de se prever. É
impossível apreender
o sentido do chamado,
ouvir com nitidez
os sussurros da
escuridão.
Referência:
BOUSOÑO, Carlos.
Definición de la belleza. In: __________. Poesía – Antología: 1945-1993.
Edición de Alejandro Duque Amusco. 2. ed. Madrid, ES: Espasa Calpe, 1995. p.
251. (Colección ‘Austral’; v. 313)
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