Neste poema confessional,
Lowell não abre mão de deixar à vista de todos o inferno no qual submerso, em face
dos episódios maníaco-depressivos ensejadores de suas reiteradas hospitalizações:
todos os incidentes de uma vida descuidada acabaram por enredá-lo numa trama
que, literalmente, o desviou de seu ponto de equilíbrio mental.
Pelo que pude apurar
pela grande rede, “Dolphin” era a forma afetuosa pela qual Lowell se dirigia à
sua terceira esposa, a inglesa Lady Caroline Blackwood (1931-1996), com quem
conviveu por meia década, ou seja, até o seu falecimento. “Dolphin”, também, diz
respeito ao título do infratranscrito poema que encerra a coletânea “The
Dolphin”, publicada por Lowell, em primeira edição, em 1973.
J.A.R. – H.C.
Robert Lowell
(1917-1977)
Dolphin
My Dolphin, you only
guide me by surprise,
a captive as Racine,
the man of craft,
drawn through his
maze of iron composition
by the incomparable
wandering voice of Phèdre.
When I was troubled
in mind, you made for my body
caught in its hangman’s-knot
of sinking lines,
the glassy bowing and
scraping of my will...
I have sat and
listened to too many
words of the collaborating
muse,
and plotted perhaps
too freely with my life,
not avoiding injury
to others,
not avoiding injury
to myself –
to ask compassion...
this book, half fiction,
an eelnet made by man
for the eel fighting
my eyes have seen
what my hand did.
Golfinho
(Maria S. Barry: artista
norte-americana)
Golfinho
Golfinho meu, só me
guias de improviso,
cativo como Racine, o
artífice,
arrastado a seu
labirinto de férrea composição
pela incomparável e
errante voz de Fedra.
Quando estava com a
mente turbada, ancoraste ao meu corpo
capturado num nó de
forca de suas linhas submersas,
a vítrea reverência e
sujeição de minha vontade...
Sentei-me e escutei
demasiadas
palavras da consócia
musa,
e tramei talvez muito
livremente minha vida,
sem evitar ferir os
outros,
sem evitar ferir a
mim mesmo –
para poder rogar
compaixão... este livro, metade ficção,
uma cilada urdida
pelo homem para uma enguia em luta:
meus olhos viram o
que fez a minha mão.
Referência:
LOWELL, Robert.
Dolphin. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american
poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p.
20.
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