Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 20 de março de 2024

Robert Lowell - Golfinho

Neste poema confessional, Lowell não abre mão de deixar à vista de todos o inferno no qual submerso, em face dos episódios maníaco-depressivos ensejadores de suas reiteradas hospitalizações: todos os incidentes de uma vida descuidada acabaram por enredá-lo numa trama que, literalmente, o desviou de seu ponto de equilíbrio mental.

 

Pelo que pude apurar pela grande rede, “Dolphin” era a forma afetuosa pela qual Lowell se dirigia à sua terceira esposa, a inglesa Lady Caroline Blackwood (1931-1996), com quem conviveu por meia década, ou seja, até o seu falecimento. “Dolphin”, também, diz respeito ao título do infratranscrito poema que encerra a coletânea “The Dolphin”, publicada por Lowell, em primeira edição, em 1973.

 

J.A.R. – H.C.

 

Robert Lowell

(1917-1977)

 

Dolphin

 

My Dolphin, you only guide me by surprise,

a captive as Racine, the man of craft,

drawn through his maze of iron composition

by the incomparable wandering voice of Phèdre.

When I was troubled in mind, you made for my body

caught in its hangman’s-knot of sinking lines,

the glassy bowing and scraping of my will...

I have sat and listened to too many

words of the collaborating muse,

and plotted perhaps too freely with my life,

not avoiding injury to others,

not avoiding injury to myself –

to ask compassion... this book, half fiction,

an eelnet made by man for the eel fighting

 

my eyes have seen what my hand did.

 

Golfinho

(Maria S. Barry: artista norte-americana)

 

Golfinho

 

Golfinho meu, só me guias de improviso,

cativo como Racine, o artífice,

arrastado a seu labirinto de férrea composição

pela incomparável e errante voz de Fedra.

Quando estava com a mente turbada, ancoraste ao meu corpo

capturado num nó de forca de suas linhas submersas,

a vítrea reverência e sujeição de minha vontade...

Sentei-me e escutei demasiadas

palavras da consócia musa,

e tramei talvez muito livremente minha vida,

sem evitar ferir os outros,

sem evitar ferir a mim mesmo –

para poder rogar compaixão... este livro, metade ficção,

uma cilada urdida pelo homem para uma enguia em luta: 

 

meus olhos viram o que fez a minha mão.

 

Referência:

 

LOWELL, Robert. Dolphin. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 20.

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