À margem das atribulações
do quotidiano, a falante sente prazer em estar numa sala de espera, no
aeroporto, aguardando para ser chamada ao portão correspondente para embarque,
enquanto, nessa pausa do tempo, observa às pessoas ao redor, mais propensas a
darem continuidade ao seu modo de vida tenso, do que aproveitar esse momento para
relaxar e fantasiar um pouco sobre o que poderia torná-las mais felizes.
O olhar analítico da oradora-viajante
põe a descoberto a aparência e o comportamento daqueles que costumam sair em
férias, não exatamente confortáveis durante essa hora antes do embarque, embora
tenham expectativas e fantasias sobre esse recesso para descanso: um
bronzeado sob o sol, sonos mais alongados, tudo a que possam se dedicar durante
esse período de descontração.
J.A.R. – H.C.
Rita Dove
(n. 1952)
Vacation
I love the hour
before takeoff,
that stretch of no
time, no home
but the gray vinyl
seats linked like
unfolding paper
dolls. Soon we shall
be summoned to the
gate, soon enough
there’ll be the
clumsy procedure of row numbers
and perforated stubs
– but for now
I can look at these
ragtag nuclear families
with their cooing and
bickering
or the heeled
bachelorette trying
to ignore a baby’s
wail and the baby’s
exhausted mother
waiting to be called up early
while the athlete,
one monstrous hand
asleep on his duffel
bag, listens,
perched like a seal
trained for the plunge.
Even the lone
executive
who has wandered this
far into summer
with his lasered itinerary,
briefcase
knocking his knees – even
he
has worked for the
pleasure of bearing
no more than a scrap
of himself
into this hall. He’ll
dine out, she’ll sleep late,
they’ll let the sun
burn them happy all morning
– a little hope, a
little whimsy
before the
loudspeaker blurts
and we leap up to
become
Flight 828, now
boarding at Gate 17.
Terminal de aeroporto
com pessoas à espera
(Autoria
desconhecida)
Férias
Adoro a hora antes da decolagem,
aquele vagar sem termo,
sem nada que lembre o lar,
apenas os assentos
cinza de vinil, agrupados como
bonecas de papel desdobradas.
Daqui a instantes
seremos chamados ao
portão; em breve haverá
o alvoroçado
procedimento das filas numeradas
e dos talões
perfurados – mas por ora
posso observar esses núcleos
familiares da malta,
com os seus balbucios
e quezílias,
ou a solteira de
salto alto tentando
ignorar o choro de um
bebê e a mãe do neném,
já exausta, esperando
que a chamem por primeiro,
enquanto o atleta, com
uma mão monstruosa
inerte sobre a sua
mochila, põe-se à escuta,
empoleirado como uma
foca treinada para o mergulho.
Até mesmo o executivo
solitário
que vagueou até aqui
no verão
com o seu itinerário
a laser, com uma pasta
a bater-lhe nos
joelhos – até ele
diligenciou pelo
prazer de não transportar
mais do que uma
fração de si mesmo
para este saguão. Ele
jantará fora, ela dormirá até tarde,
eles se deixarão bronzear
felizes pelo sol por toda manhã
– um pouco de expectativa,
um pouco de fantasia,
antes que o
alto-falante desembuche
e saltemos para nos
tornar
o Voo 828, agora em
embarque pelo Portão 17.
Referência:
DOVE, Rita. Vacation.
In: COLLIER, Michael; PLUMLY, Stanley (Eds.). The new bread loaf anthology of contemporary american poetry. Hanover,
NH: University Press of New England, 1999. p. 66.
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