Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Rita Dove - Férias

À margem das atribulações do quotidiano, a falante sente prazer em estar numa sala de espera, no aeroporto, aguardando para ser chamada ao portão correspondente para embarque, enquanto, nessa pausa do tempo, observa às pessoas ao redor, mais propensas a darem continuidade ao seu modo de vida tenso, do que aproveitar esse momento para relaxar e fantasiar um pouco sobre o que poderia torná-las mais felizes.

 

O olhar analítico da oradora-viajante põe a descoberto a aparência e o comportamento daqueles que costumam sair em férias, não exatamente confortáveis durante essa hora antes do embarque, embora tenham expectativas e fantasias sobre esse recesso para descanso: um bronzeado sob o sol, sonos mais alongados, tudo a que possam se dedicar durante esse período de descontração.

 

J.A.R. – H.C.

 

Rita Dove

(n. 1952)

 

Vacation

 

I love the hour before takeoff,

that stretch of no time, no home

but the gray vinyl seats linked like

unfolding paper dolls. Soon we shall

be summoned to the gate, soon enough

there’ll be the clumsy procedure of row numbers

and perforated stubs – but for now

I can look at these ragtag nuclear families

with their cooing and bickering

or the heeled bachelorette trying

to ignore a baby’s wail and the baby’s

exhausted mother waiting to be called up early

while the athlete, one monstrous hand

asleep on his duffel bag, listens,

perched like a seal trained for the plunge.

Even the lone executive

who has wandered this far into summer

with his lasered itinerary, briefcase

knocking his knees – even he

has worked for the pleasure of bearing

no more than a scrap of himself

into this hall. He’ll dine out, she’ll sleep late,

they’ll let the sun burn them happy all morning

– a little hope, a little whimsy

before the loudspeaker blurts

and we leap up to become

Flight 828, now boarding at Gate 17.

 

Terminal de aeroporto

com pessoas à espera

(Autoria desconhecida)

 

Férias

 

Adoro a hora antes da decolagem,

aquele vagar sem termo, sem nada que lembre o lar,

apenas os assentos cinza de vinil, agrupados como

bonecas de papel desdobradas. Daqui a instantes

seremos chamados ao portão; em breve haverá

o alvoroçado procedimento das filas numeradas

e dos talões perfurados – mas por ora

posso observar esses núcleos familiares da malta,

com os seus balbucios e quezílias,

ou a solteira de salto alto tentando

ignorar o choro de um bebê e a mãe do neném,

já exausta, esperando que a chamem por primeiro,

enquanto o atleta, com uma mão monstruosa

inerte sobre a sua mochila, põe-se à escuta,

empoleirado como uma foca treinada para o mergulho.

Até mesmo o executivo solitário

que vagueou até aqui no verão

com o seu itinerário a laser, com uma pasta

a bater-lhe nos joelhos – até ele

diligenciou pelo prazer de não transportar

mais do que uma fração de si mesmo

para este saguão. Ele jantará fora, ela dormirá até tarde,

eles se deixarão bronzear felizes pelo sol por toda manhã

– um pouco de expectativa, um pouco de fantasia,

antes que o alto-falante desembuche

e saltemos para nos tornar

o Voo 828, agora em embarque pelo Portão 17.

 

Referência:

 

DOVE, Rita. Vacation. In: COLLIER, Michael; PLUMLY, Stanley (Eds.). The new bread loaf anthology of contemporary american poetry. Hanover, NH: University Press of New England, 1999. p. 66.

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