Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 10 de dezembro de 2023

Thiago de Mello - Da eternidade

No leito da eternidade o poeta se transporta no tempo, deslumbrado com os elementos contingentes – águas, ventos, palmeiras, estrelas –, sabendo de antemão que, em um dado instante, será despojado desse fabuloso cenário, retornando então à matriz primordial dos evos sem parênteses, reintegrando-se ao Uno Supremo.

 

Passageiros do tempo, somos vocacionados a aspirar a um sonho eterno, porque a vida assim como a conhecemos – limitada a uma intermitência entre nascimento e morte – mostra-se algo desbastada de plenos sentidos, daí o voo de transcendência, a jungir aquilo que foi e o que ainda há de ser, tencionando escapar às vicissitudes das mutações temporais.

 

J.A.R. – H.C.

 

Thiago de Mello

(1926-2022)

 

Da eternidade

 

Da eternidade venho. Dela faço

parte, desde o começo da vida

dos que me fizeram ser

até chegar ao que sou.

Transporto com a minha vida

a eternidade no tempo.

Menino deslumbrado com as águas,

os ventos, as palmeiras, as estrelas,

prolonguei sem saber a eternidade

que neste instante navega

no meu sangue fatigado.

 

Santiago, 1993.

Em: “De uma vez por todas” (1996)

 

Reflexos das Águas

(Linda Olsen: pintora norte-americana)

 

Referência:


MELLO, Thiago de. Da eternidade. In: __________. Poemas preferidos pelo autor e seus leitores: edição comemorativa dos 75 anos do autor. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: Bertrand Brasil, 2006. p. 215.

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