No leito da
eternidade o poeta se transporta no tempo, deslumbrado com os elementos contingentes
– águas, ventos, palmeiras, estrelas –, sabendo de antemão que, em um dado
instante, será despojado desse fabuloso cenário, retornando então à matriz
primordial dos evos sem parênteses, reintegrando-se ao Uno Supremo.
Passageiros do tempo,
somos vocacionados a aspirar a um sonho eterno, porque a vida assim como a
conhecemos – limitada a uma intermitência entre nascimento e morte – mostra-se
algo desbastada de plenos sentidos, daí o voo de transcendência, a jungir aquilo
que foi e o que ainda há de ser, tencionando escapar às vicissitudes das
mutações temporais.
J.A.R. – H.C.
Thiago de Mello
(1926-2022)
Da eternidade
Da eternidade venho.
Dela faço
parte, desde o começo
da vida
dos que me fizeram
ser
até chegar ao que
sou.
Transporto com a
minha vida
a eternidade no
tempo.
Menino deslumbrado
com as águas,
os ventos, as
palmeiras, as estrelas,
prolonguei sem saber
a eternidade
que neste instante
navega
no meu sangue
fatigado.
Santiago, 1993.
Em: “De uma vez por
todas” (1996)
Reflexos das Águas
(Linda Olsen: pintora
norte-americana)
Referência:
MELLO, Thiago de. Da eternidade. In: __________. Poemas preferidos pelo
autor e seus leitores: edição comemorativa dos 75 anos do autor. 3. ed. Rio
de Janeiro, RJ: Bertrand Brasil, 2006. p. 215.
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