Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Eugenio Montale - Fim de 68

Ao final do marcante ano de 1968 – durante o qual sucederam as célebres mobilizações estudantis e greves gerais em Paris –, Montale, desde um ponto de vista inusitado – sobre a superfície da lua –, contempla a terra e seus habitantes, ele próprio aí incluso, envoltos numa conjunção de lucidez e de hermetismo, entre condutas exotéricas e esotéricas.

 

Um estranho mundo, de uma realidade ao mesmo tempo inconteste e misteriosa, surge sob a pena irônica do poeta, caracterizando uma sociedade que, em meio a celebrações e divertimentos, pouco se interessa pelo destino do mais comum dos homens, mesmo em seu momento mais trágico, a saber, o da morte.

 

J.A.R. – H.C.

 

Eugenio Montale

(1896-1981)

 

Fine del ’68

 

Ho contemplato dalla luna, o quasi,

il modesto pianeta che contiene

filosofia, teologia, politica,

pornografia, letteratura, scienze

palesi o arcane. Dentro c’è anche l’uomo,

ed io tra questi. E tutto è molto strano.

 

Tra poche ore sarà notte e l’anno

finirà tra esplosioni di spumanti

e di petardi. Forse di bombe o peggio,

ma non qui dove sto. Se uno muore

non importa a nessuno purché sia

sconosciuto e lontano.

 

Um homem e seus pensamentos

(Richard Heiens: pintor norte-americano)

 

Fim de 68

 

Contemplei a partir da lua, ou quase,

o modesto planeta que contém

filosofia, teologia, política,

pornografia, literatura, ciência difundida

ou arcana. Dentro também está o homem,

e eu entre eles. E tudo é muito estranho.

 

Em algumas horas sobrevirá a noite e o ano

terminará em meio a explosões de espumantes

e de petardos. Talvez de bombas ou coisa pior,

mas não aqui onde estou. Se alguém morre,

ninguém se importa, desde que seja

desconhecido e distante.

 

Referência:

 

MONTALE, Eugenio. Fine del ’68. In: __________. Satura. Edición bilingüe: italiano x español. Traducción de María Ángeles Cabré. 1. ed. Barcelona, ES: Icaria, may. 2000. p. 122. (Colección ‘Icaria Poesía’)

 


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