Ao final do marcante
ano de 1968 – durante o qual sucederam as célebres mobilizações estudantis e
greves gerais em Paris –, Montale, desde um ponto de vista inusitado – sobre a
superfície da lua –, contempla a terra e seus habitantes, ele próprio aí
incluso, envoltos numa conjunção de lucidez e de hermetismo, entre condutas exotéricas
e esotéricas.
Um estranho mundo, de
uma realidade ao mesmo tempo inconteste e misteriosa, surge sob a pena irônica
do poeta, caracterizando uma sociedade que, em meio a celebrações e divertimentos,
pouco se interessa pelo destino do mais comum dos homens, mesmo em seu momento
mais trágico, a saber, o da morte.
J.A.R. – H.C.
Eugenio Montale
(1896-1981)
Fine del ’68
Ho contemplato dalla
luna, o quasi,
il modesto pianeta
che contiene
filosofia, teologia,
politica,
pornografia, letteratura,
scienze
palesi o arcane.
Dentro c’è anche l’uomo,
ed io tra questi. E
tutto è molto strano.
Tra poche ore sarà
notte e l’anno
finirà tra esplosioni
di spumanti
e di petardi. Forse
di bombe o peggio,
ma non qui dove sto.
Se uno muore
non importa a nessuno
purché sia
sconosciuto e
lontano.
Um homem e seus
pensamentos
(Richard Heiens:
pintor norte-americano)
Fim de 68
Contemplei a partir
da lua, ou quase,
o modesto planeta que
contém
filosofia, teologia,
política,
pornografia,
literatura, ciência difundida
ou arcana. Dentro
também está o homem,
e eu entre eles. E
tudo é muito estranho.
Em algumas horas
sobrevirá a noite e o ano
terminará em meio a
explosões de espumantes
e de petardos. Talvez
de bombas ou coisa pior,
mas não aqui onde
estou. Se alguém morre,
ninguém se importa,
desde que seja
desconhecido e
distante.
Referência:
MONTALE, Eugenio. Fine
del ’68. In: __________. Satura. Edición bilingüe: italiano x español. Traducción
de María Ángeles Cabré. 1. ed. Barcelona, ES: Icaria, may. 2000. p. 122. (Colección
‘Icaria Poesía’)
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