Em oito quadras de
versos heptassílabos, Trevisan formula breves incursões sobre como se mostra o
Natal na urbe carioca, abstraído da vertente lancinante da biografia de Cristo,
dando ênfase à pessoa do recém-nascido, carente, contudo, de adoração junto aos
citadinos e banhistas, dispersados em prestigiosas vistas cênicas: Leblon,
Lagoa Rodrigo de Freitas, Corcovado.
Para um Deus que
eclode “na crista da Evolução”, tenciona o poeta “ensaiar uma prece triste”,
“mas essencial”, para deplorar, quiçá, o “tédio” e a “sem-razão” das gentes que
se entregam à indiferença, com pouca importância a dar à luz do Verbo e da
Redenção – essa culminância disponível ao ser humano, mediante o justo
equilíbrio entre a sabedoria do coração e o exercício da prudência.
J.A.R. – H.C.
Armindo Trevisan
(n. 1933)
Natal Essencial
Natal... Um Deus
eclodindo
na crista da
Evolução,
e o Mundo no tédio
rindo
da sua própria
sem-razão.
Natal... O Átomo
sente
um arrepio
vertical...
A Vida parou contente
à beira de um
roseiral.
Tudo canta... No
Leblon
brincam banhistas
à-toa...
Jesus busca adoração
nas amêndoas da
Lagoa...
Lá no alto, o
Corcovado
tem desejos de farol:
Deus está mesmo
cansado
da lava mansa do
sol...
Fixa a linha do
horizonte,
o céu que perde o
semblante...
Quem se lembra que
foi ontem
que Ele morreu? Vai
adiante.
Nas coisas paira uma
dor
de universal
cortesia.
É bom ser Nosso
Senhor
tão somente por um
dia!
Natal... Jesus... A
Verdade,
O Caminho, a Vida, a
Luz.
Ah! Que terrível
vontade
de crer num Cristo
sem Cruz!
Mas a Cruz ali
floresce
no Presépio. Hoje é
Natal!
Vou ensaiar uma prece
triste, oh sim, mas
essencial...
Estudo para o menino
Jesus
(Federico Barocci:
pintor italiano)
Referência:
TREVISAN, Armindo.
Natal essencial. In: __________. A surpresa do ser (Metalírica I). Rio
de Janeiro, GB: José Álvaro Editor, 1967. p. 227-228.
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