O crítico e poeta
goiano dirige a sua oração natalina à criança recém-nascida, rogando-lhe que o
mantenha distante do “tumulto das gentes”, do “burburinho insano” e das “vozes
estridentes da turba irracional” – nítida alusão ao que se converteu a quadra
do Natal, um conturbado e frenético ir e vir à busca de bens e de serviços, que
somente responde aos interesses maiores do comércio e da indústria.
A mensagem de Cristo,
claro está, resta legada a um segundo plano: mas ela é o que o ente lírico tenciona
sobrelevar, a sua tessitura magnânima, humanitarista, fraterna, perante cujos
valores busca se reconciliar. Afinal, como se afirma em (I Jo. 2: 8-11), uma
conduta inspirada pelo amor seria um explícito sinal de que se caminha sob os
auspícios da Luz.
J.A.R. – H.C.
Gilberto Mendonça
Teles
(n. 1931)
Oração de Natal
Jesus, para o Natal
minh’alma vos suplica
um silêncio de paz,
uma quietude rica
de áureas
recordações, de mística saudade,
de sossego, de calma
e de serenidade…
Longe, para bem
longe, o tumulto das gentes,
o burburinho insano e
as vozes estridentes
da turba irracional!
Deixai-me ouvir os
hinos,
as sagradas canções,
o badalar dos sinos,
esses celestes sons
que em minh’alma se adensam…
Entornai sobre mim a
luz de vossa bênção
Espiritualizada…
Arrancai de meu peito
O lúrido rancor com
que – néscio – me enfeito!
Jesus, fazei com que
neste Natal eu possa
sentir por um momento
a Excelsitude Vossa
no espírito cansado e
cheio de saudade.
Insuflai em minh’alma
as luzes da Bondade
e a minha fronte
ornai de sonhos mais celestes…
Sejam-me a inspiração
as dores que tivestes.
Somente para Vós seja
o meu pensamento
voltado…
E, então no som
nostálgico do vento,
no quérulo cantar das
pequeninas aves,
no cicio feliz das
orações suaves
e na festiva voz dos
sinos vos verei
– simples como um
Mendigo e altivo como um Rei!
(Natal de 53)
Em: “Alvorada” (1955)
A Sagrada Família
(Pompeo Batoni:
pintor italiano)
Referência:
TELES, Gilberto
Mendonça. Oração de Natal. In: __________. Hora aberta: poemas reunidos.
Organização Eliane Vasconcelos. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. p. 845-846.
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