Com título
assemelhado ao deste poema, há outros dois que também fazem parte de “A Village
Life” (“Uma Vida na Aldeia), de 2009, nos quais a autora norte-americana retrata
o fim de um ciclo de consumação de elementos mortos sobre a terra, em pleno
cenário outonal, embora a vida continue subentendida na sucessão das quatro
estações.
Tem-se aqui um
campônio a queimar despojos de folhas ao pôr do sol, uma espécie de metáfora
para a morte humana, em linha adjunta aos desígnios da natureza, por meio dos
quais “a morte abre espaço para a vida”, suscitando uma regeneração periódica
mesmo ali onde, em dado momento, nada há “entre a terra e a escuridão”.
J.A.R. – H.C.
Louise Glück
(n. 1943)
Burning Leaves
Not far from the
house and barn,
the farm worker’s
burning dead leaves.
They don’t disappear
voluntarily;
you have to prod them
along
as the farm worker
prods the leaf pile every year
until it releases a
smell of smoke into the air.
And then, for an hour
or so, it’s really animated,
blazing away like
something alive.
When the smoke
clears, the house is safe.
A woman’s standing in
the back,
folding dry clothes
into a willow basket.
So it’s finished for
another year,
death making room for
life,
as much as possible,
but burning the house
would be too much room.
Sunset. Across the
road,
the farm worker’s
sweeping the cold ashes.
Sometimes a few
escape, harmlessly drifting around
in the wind.
Then the air is
still.
Where the fire was,
there’s only bare dirt in a circle of rocks.
Nothing between the
earth and the dark.
In: “A Village Life”
(2009)
Fazenda no Outono
(Josh Creek: pintor
norte-americano)
Folhas em Chamas
Não muito longe da vivenda
e do celeiro,
o camponês está
queimando folhas mortas.
Elas não desaparecem
espontaneamente;
há que se crestá-las
numa pilha,
tal como o camponês põe-nas
a esbrasear todos os anos,
até que soltem um
cheiro de fumaça no ar.
E então, por cerca de
uma hora, elas crepitam de fato,
ardendo até o fim como
algo vivo.
Quando a fumaça se
dissipa, a vivenda está segura.
Uma mulher, em seus
afazeres na parte de trás,
dobra roupas secas em
um cesto de vime.
Assim, tudo se finda
por mais um ano,
a morte a dar lugar à
vida,
tanto quanto possível
–
pois que atear fogo à
vivenda seria remate desmesurado.
Pôr do sol. Do outro
lado da trilha,
o camponês ocupa-se
em varrer as cinzas frias.
Às vezes, algumas
escapam, flutuando inócuas no vento.
Depois o ar volta a se
acalmar.
Onde estava o fogo,
há apenas terra nua num círculo
de pedras.
Nada entre a terra e
a escuridão.
Em: “Uma Vida na
Aldeia” (2009)
Referência:
GLÜCK, Louise. Burning
leaves. In: __________. Poems: 1962-2012. First paperback edition. New
York, NY: Farrar, Straus and Giroux, 2013. p. 582.
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