Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Louise Glück - Folhas em Chamas

Com título assemelhado ao deste poema, há outros dois que também fazem parte de “A Village Life” (“Uma Vida na Aldeia), de 2009, nos quais a autora norte-americana retrata o fim de um ciclo de consumação de elementos mortos sobre a terra, em pleno cenário outonal, embora a vida continue subentendida na sucessão das quatro estações.

 

Tem-se aqui um campônio a queimar despojos de folhas ao pôr do sol, uma espécie de metáfora para a morte humana, em linha adjunta aos desígnios da natureza, por meio dos quais “a morte abre espaço para a vida”, suscitando uma regeneração periódica mesmo ali onde, em dado momento, nada há “entre a terra e a escuridão”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Louise Glück

(n. 1943)

 

Burning Leaves

 

Not far from the house and barn,

the farm worker’s burning dead leaves.

 

They don’t disappear voluntarily;

you have to prod them along

as the farm worker prods the leaf pile every year

until it releases a smell of smoke into the air.

 

And then, for an hour or so, it’s really animated,

blazing away like something alive.

 

When the smoke clears, the house is safe.

A woman’s standing in the back,

folding dry clothes into a willow basket.

 

So it’s finished for another year,

death making room for life,

as much as possible,

but burning the house would be too much room.

 

Sunset. Across the road,

the farm worker’s sweeping the cold ashes.

Sometimes a few escape, harmlessly drifting around

in the wind.

 

Then the air is still.

Where the fire was, there’s only bare dirt in a circle of rocks.

Nothing between the earth and the dark.

 

In: “A Village Life” (2009)

 

Fazenda no Outono

(Josh Creek: pintor norte-americano)

 

Folhas em Chamas

 

Não muito longe da vivenda e do celeiro,

o camponês está queimando folhas mortas.

 

Elas não desaparecem espontaneamente;

há que se crestá-las numa pilha,

tal como o camponês põe-nas a esbrasear todos os anos,

até que soltem um cheiro de fumaça no ar.

 

E então, por cerca de uma hora, elas crepitam de fato,

ardendo até o fim como algo vivo.

 

Quando a fumaça se dissipa, a vivenda está segura.

Uma mulher, em seus afazeres na parte de trás,

dobra roupas secas em um cesto de vime.

 

Assim, tudo se finda por mais um ano,

a morte a dar lugar à vida,

tanto quanto possível –

pois que atear fogo à vivenda seria remate desmesurado.

 

Pôr do sol. Do outro lado da trilha,

o camponês ocupa-se em varrer as cinzas frias.

Às vezes, algumas escapam, flutuando inócuas no vento.

 

Depois o ar volta a se acalmar.

Onde estava o fogo, há apenas terra nua num círculo

de pedras.

Nada entre a terra e a escuridão.

 

Em: “Uma Vida na Aldeia” (2009)

 

Referência:

 

GLÜCK, Louise. Burning leaves. In: __________. Poems: 1962-2012. First paperback edition. New York, NY: Farrar, Straus and Giroux, 2013. p. 582.

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