A partir de uma
imagem trivial – a julgar pelo título, uma fotografia de uma parede ensombrada
pelo fim da tarde –, o poeta reelabora em palavras a realidade que lhe parece
desencantada, de um flagrante já inerte e liquidado, envolto em “descrenças” e
que, por efeito da imaginação, logra convolar-se na “cor que a eternidade tem”.
Fugindo ao “realismo”
que lhe deu primário ensejo – nas imediações de um tempo finito, apreendido em
sua textura estática –, a cena, consectária de uma natureza “polimórfica”,
suscita a emersão de pensamentos que se projetam sobre “o ecrã dessa parede”,
tudo se passando como se virtualidades fossem, ebulindo em visões, metáforas, dinâmicas,
outras tantas apreensões do que à mente possa vir a fazer algum sentido.
J.A.R. – H.C.
Luís Quintais
(n. 1968)
Fotografia
É uma imagem
de uma parede e as
vulgares sombras
de fim de tarde.
Nada faz pressentir
outro sortilégio, a
cor que a eternidade tem,
uma hesitação que faz
abolir a descrença.
Tudo é descrença,
aqui.
Porém, polimórfica, a
natureza
desdobra o pensamento
sobre o ecrã dessa
parede.
O realismo é
destruído.
Sol da tarde I
(Timothy O’Toole:
artista norte-americano)
Referência:
QUINTAIS, Luís.
Fotografia. In: __________. A noite imóvel. Lisboa, PT: Assírio &
Alvim, 2017. p. 61.
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