Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 2 de dezembro de 2023

Luís Quintais - Fotografia

A partir de uma imagem trivial – a julgar pelo título, uma fotografia de uma parede ensombrada pelo fim da tarde –, o poeta reelabora em palavras a realidade que lhe parece desencantada, de um flagrante já inerte e liquidado, envolto em “descrenças” e que, por efeito da imaginação, logra convolar-se na “cor que a eternidade tem”.

 

Fugindo ao “realismo” que lhe deu primário ensejo – nas imediações de um tempo finito, apreendido em sua textura estática –, a cena, consectária de uma natureza “polimórfica”, suscita a emersão de pensamentos que se projetam sobre “o ecrã dessa parede”, tudo se passando como se virtualidades fossem, ebulindo em visões, metáforas, dinâmicas, outras tantas apreensões do que à mente possa vir a fazer algum sentido.

 

J.A.R. – H.C.

 

Luís Quintais

(n. 1968)

 

Fotografia

 

É uma imagem

de uma parede e as vulgares sombras

de fim de tarde.

 

Nada faz pressentir

outro sortilégio, a cor que a eternidade tem,

uma hesitação que faz abolir a descrença.

 

Tudo é descrença, aqui.

 

Porém, polimórfica, a natureza

desdobra o pensamento

sobre o ecrã dessa parede.

 

O realismo é destruído.

 

Sol da tarde I

(Timothy O’Toole: artista norte-americano)

 

Referência:

 

QUINTAIS, Luís. Fotografia. In: __________. A noite imóvel. Lisboa, PT: Assírio & Alvim, 2017. p. 61.

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