O poeta foi
correspondente de guerra (2GM), de julho a setembro de 1942, quando teve a
oportunidade de acompanhar a 9ª Divisão Australiana em combate, a oeste de El
Alamein, cidade ao norte do Egito, na costa do Mar Mediterrâneo, onde ocorreram
os infaustos fatos descritos neste poema, quando um batalhão inteiro foi morto
ou capturado em fins de jul/42.
O horror pelos
resultados da refrega transparece nos versos para além da tendência de se ver o
conflito pela lente de um dos adversários, pois que o falante engloba num coletivo
indiferenciado o numeroso contingente dos que ali foram ao encontro da morte – “os
do nosso lado, os do lado oposto, os que sequer estavam em combate” –, sem um
enterro digno, apressadamente lançados, não identificados, em covas sob a areia
da praia.
J.A.R. – H.C.
Kenneth Slessor
(1901-1971)
Beach Burial
Softly and humbly to
the Gulf of Arabs
The convoys of dead
sailors come;
At night they sway
and wander in the waters far under,
But morning rolls
them in the foam.
Between the sob and
clubbing of gunfire
Someone, it seems,
has time for this,
To pluck them from
the shallows and bury them in burrows
And tread the sand
upon their nakedness;
And each cross, the
driven stake of tidewood,
Bears the last
signature of men,
Written with such
perplexity, with such bewildered pity,
The words choke as
they begin –
“Unknown seaman” –
the ghostly pencil
Wavers and fades, the
purple drips,
The breath of wet
season has washed their inscriptions
As blue as drowned
men’s lips,
Dead seamen, gone in
search of the same landfall,
Whether as ememies
they fought,
Or fought with us, or
neither; the sand joins them together,
Enlisted on the other
front.
El Alamein
Procissão Fúnebre ao
Luar
(Autoria desconhecida)
Enterro na Praia
Lenta e humildemente,
em direção ao Golfo Pérsico,
Avançam os comboios
de marinheiros mortos;
À noite, agitam-se e
vagueiam em águas profundas,
Mas a alvorada os faz
rolar em espumas.
Entre os soluços e o
fragor dos canhões,
Alguém, pelo visto,
encontra tempo para isto:
Arrancá-los dos
baixios e enterrá-los em covas,
Calcando a areia
sobre os corpos desnudos;
E cada cruz, estaca
fincada recolhida à maré,
Ostenta a derradeira assinatura
dos homens,
Escrita com tanta
perplexidade, tão pungente dó,
Que as palavras
sufocam quando principiam –
“Marinheiro
desconhecido” – o lápis fantasmagórico
Vacila e se
desvanece, o tom violáceo escorre:
A brisa da estação
chuvosa clareou as inscrições
Tão azuis quanto os
lábios dos afogados;
Marinheiros mortos, zarpados
à mesma terra em vista,
Quer lutassem como
inimigos, quer ao nosso lado,
Ou nem sequer, a
areia agora os mantém juntos,
Alistados em outro front.
El Alamein
Referência:
SLESSOR, Kenneth. Beach burial. In: HARRISON, Michael; STUAR-CLARK, Christopher (Chs.). Peace & War: a collection of poems. Paperback reprinted. Oxford, EN: Oxford University Press, 1992. p. 152.
❁
Revisitando o blog e me deparando com uma nova lição de poesia.
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