Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Kenneth Slessor - Enterro na Praia

O poeta foi correspondente de guerra (2GM), de julho a setembro de 1942, quando teve a oportunidade de acompanhar a 9ª Divisão Australiana em combate, a oeste de El Alamein, cidade ao norte do Egito, na costa do Mar Mediterrâneo, onde ocorreram os infaustos fatos descritos neste poema, quando um batalhão inteiro foi morto ou capturado em fins de jul/42.

 

O horror pelos resultados da refrega transparece nos versos para além da tendência de se ver o conflito pela lente de um dos adversários, pois que o falante engloba num coletivo indiferenciado o numeroso contingente dos que ali foram ao encontro da morte – “os do nosso lado, os do lado oposto, os que sequer estavam em combate” –, sem um enterro digno, apressadamente lançados, não identificados, em covas sob a areia da praia.

 

J.A.R. – H.C.

 

Kenneth Slessor

(1901-1971)

 

Beach Burial

 

Softly and humbly to the Gulf of Arabs

The convoys of dead sailors come;

At night they sway and wander in the waters far under,

But morning rolls them in the foam.

 

Between the sob and clubbing of gunfire

Someone, it seems, has time for this,

To pluck them from the shallows and bury them in burrows

And tread the sand upon their nakedness;

 

And each cross, the driven stake of tidewood,

Bears the last signature of men,

Written with such perplexity, with such bewildered pity,

The words choke as they begin –

 

“Unknown seaman” – the ghostly pencil

Wavers and fades, the purple drips,

The breath of wet season has washed their inscriptions

As blue as drowned men’s lips,

 

Dead seamen, gone in search of the same landfall,

Whether as ememies they fought,

Or fought with us, or neither; the sand joins them together,

Enlisted on the other front.

 

El Alamein

 

Procissão Fúnebre ao Luar

(Autoria desconhecida)

 

Enterro na Praia

 

Lenta e humildemente, em direção ao Golfo Pérsico,

Avançam os comboios de marinheiros mortos;

À noite, agitam-se e vagueiam em águas profundas,

Mas a alvorada os faz rolar em espumas.

 

Entre os soluços e o fragor dos canhões,

Alguém, pelo visto, encontra tempo para isto:

Arrancá-los dos baixios e enterrá-los em covas,

Calcando a areia sobre os corpos desnudos;

 

E cada cruz, estaca fincada recolhida à maré,

Ostenta a derradeira assinatura dos homens,

Escrita com tanta perplexidade, tão pungente dó,

Que as palavras sufocam quando principiam –

 

“Marinheiro desconhecido” – o lápis fantasmagórico

Vacila e se desvanece, o tom violáceo escorre:

A brisa da estação chuvosa clareou as inscrições

Tão azuis quanto os lábios dos afogados;

 

Marinheiros mortos, zarpados à mesma terra em vista,

Quer lutassem como inimigos, quer ao nosso lado,

Ou nem sequer, a areia agora os mantém juntos,

Alistados em outro front.

 

El Alamein

 

Referência:

 

SLESSOR, Kenneth. Beach burial. In: HARRISON, Michael; STUAR-CLARK, Christopher (Chs.). Peace & War: a collection of poems. Paperback reprinted. Oxford, EN: Oxford University Press, 1992. p. 152.

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