Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Emily Dickinson - Levantei Cedo – eu e o Cão

Nestes versos de Dickinson, o mar surge personificado como um amante, com quem a falante reluta em enredar-se para uma experiência de amor, arrebatamento e prazer, talvez por ater-se à sua reprimida feminilidade: o temor de contato físico acaba por bloquear a consumação dos desejos entrevistos nas sugestivas imagens evocadas pela poetisa.

 

Aliás, tais imagens poderiam dar ensejo a outras interpretações, considerando a ambivalência tonal do simbolismo infundido nos versos, a exemplo da presença ameaçadora das forças da natureza – de que o mar seria um exemplo contundente –, ou mesmo de elementos prenunciadores da morte, quase uma invariante nas linhas de Dickinson.

 

J.A.R. – H.C.

 

Emily Dickinson

(1830-1886)

 

I started Early – Took my Dog

 

I started Early – Took my Dog –

And visited the Sea –

The Mermaids in the Basement

Came out to look at me –

 

And Frigates – in the Upper Floor

Extended Hempen Hands –

Presuming Me to be a Mouse –

Aground – opon the Sands –

 

But no Man moved Me – till the Tide

Went past my simple Shoe –

And past my Apron – and my Belt

And past my Boddice – too –

 

And made as He would eat me up –

As wholly as a Dew

Opon a Dandelion’s Sleeve –

And then – I started – too –

 

And He – He followed – close behind –

I felt His Silver Heel

Opon my Ancle – Then My Shoes

Would overflow with Pearl –

 

Until We met the Solid Town –

No One He seemed to know –

And bowing – with a Mighty look –

At me – The Sea withdrew –

 

Uma dama e o seu cão na praia

(Joaquín Sorolla e Bastida: pintor espanhol)

 

Levantei Cedo – eu e o Cão

 

Levantei Cedo – eu e o Cão –

E visitamos o Mar –

As Sereias do Porão

Saíram para me olhar –

 

E Fragatas – no Andar de Cima

Estenderam mãos de Cânhamo –

Presumindo-me um Cabeço –

Na praia – em terra firme –

 

Homem algum me moveu – até

a Maré molhar-me o Sapato –

E alcançar o Avental – e o Cinto –

E subir até o Corpete –

 

Ele queria me comer –

Como Orvalho devora

A Franja de Dente-de-Leão –

E eu quis ir embora

 

E – Ele me seguiu – de perto –

Senti seus Pés de Prata –

Nos Tornozelos – Meus Sapatos

Transbordaram de Pérolas –

 

Até a Cidade Sólida –

Conhecido algum Ele viu –

E curvando-se – a me olhar

De cima – O Mar se retraiu –

 

Notas do Tradutor Adalberto Müller:

 

(1). Embora vivesse longe do mar, Dickinson esteve algumas vezes em Boston e também em Middletown, NJ. (DICKINSON, 2020, p. 835).

 

(2). “Mouse” (rato) era um tipo de nó usado nos cordames dos navios a vela; as cordas eram feitas de cânhamo (“hemp”). (DICKINSON, 2020, p. 835).

 

Referência:

 

DICKINSON, Emily. I started early – took my dog / Levantei cedo – eu e o cão. Tradução de Adalberto Müller. In: __________. Poesia completa. Volume I: os fascículos. Edição bilíngue. Tradução, notas e posfácio de Adalberto Müller. Prefácio à edição brasileira de Cristanne Miller. Brasília, DF: Editora UnB, 2020. Em inglês: p. 584 e 586; em português: 585 e 587.

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