O escritor e poeta
irlandês transpõe a história bíblica do nascimento de Cristo para cenários
quotidianos que demarcam ainda nossa vã contemporaneidade, onde grassa a
pobreza em grande parte do planeta: a babá, que se presume ser a falante do
poema, dedica-se a fazer o bebê parar de chorar e dormir, cuidando para que
nada o desperte, pois que a fome é um impeditivo para voltar a acalmá-lo.
Para obter recursos
de mantença da família, até o berço do bebê foi dado em penhor, pois o provedor
do grupo se encontra desempregado e o que resta de numerário para cobrir as
despesas é pouco mais do que dois xelins por semana: esse é o contexto em que
vivem milhões de brasileiros, país com uma das piores distribuições de renda do
mundo.
J.A.R. – H.C.
Cecil Day-Lewis
(1904-1972)
A Carol
Oh hush thee, my
baby,
Thy cradle’s in pawn:
No blankets to cover
thee
Cold and forlorn.
The stars in the
bright sky
Look down and are
dumb
At the heir of the
ages
Asleep in a slum.
The hooters are
blowing,
No heed let him take;
When baby is hungry
’Tis best not to
wake.
Thy mother is crying,
Thy dad’s on the
dole:
Two shillings a week
is
The price of a soul.
Natividade
(James B. Janknegt:
artista norte-americano)
Um Cântico
Oh, silencia, meu
bebê,
Teu berço foi dado em
penhor:
Não há mantas para te
proteger
Do frio e do
desconsolo.
As estrelas no brilhante
céu
Olham para baixo e
emudecem
Ante o herdeiro dos
séculos
Dormindo numa favela.
Estão a soprar as
buzinas,
Não o deixes prestar
atenção;
Quando o bebê está
com fome,
É melhor não o
despertar.
Tua mãe está
chorando,
Teu pai,
desempregado:
Dois xelins por
semana é
O preço de uma alma.
Referência:
DAY-LEWIS, Cecil. A
carol. In: HOLLANDER, John; McCLATCHY, J. D. (Sel. & Ed.). Christmas
poems. New York, NY: Alfred A. Knopf, 1999. p. 163. (‘Everyman’s Library:
Pocket Poets’)
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