O mapa que se deduz
do firmamento é apenas um dos roteiros possíveis para um cenário de distâncias colossais
e mutáveis, de impercebidos ímpetos ao olhar, a percutir, de todo modo, o elemento
motor presente em sua conjectural carta topográfica, qual seja, o “amor fluente
e sempre vivo”, magnífica cifra desse heraclitiano concerto, onde também, insuspeita,
se incorpora a humana realidade.
De um berçário estelar
configurado por um sistema de mil incógnitas, nas regiões lindeiras da
imprevisibilidade e da indeterminação, pode surgir um astro luminoso e com invulgar
dinâmica. Como chegaremos a contemplá-lo nos céus? Permanecerá, como muitos,
desconhecido em astronômicas distâncias, de onde não nos chegará sequer uma
réstia de luz...
J.A.R. – H.C.
Orides Fontela
(1940-1998)
Mapa
Eis a carta dos céus:
as distâncias vivas
indicam apenas
roteiros
os astros não se
interligam
e a distância maior
é olhar apenas.
A estrela
voo e luz somente
sempre nasce agora:
desconhece as irmãs
e é sem espelho.
Eis a carta dos céus:
tudo
indeterminado e
imprevisto
cria um amor fluente
e sempre vivo.
Eis a carta dos céus: tudo
se move.
Em: “Alba” (1983)
Ícones do Perigo
(James Gleeson: artista
australiano)
Referência:
FONTELA, Orides. Mapa. In: __________. Trevo: 1969-1988. São Paulo, SP: Duas Cidades, 1988. p. 169. (Coleção ‘Claro Enigma’)
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