Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Antonio Espina - Vaidade

Pondera o poeta espanhol sobre o amplo hiato entre os limites comportamentais de temperança e de incontinência – este muito mais conforme aos arroubos de vaidade –, entre os quais a verdade arrisca-se a visitar fronteiras maleáveis, muitas vezes contíguas ao seu exato antônimo, configurando, decerto, contextos predicáveis como doxológicos, mas que, a depender do ânimo de quem os defende, revestem-se da insolente pretensão a fixar-se como um cânone mandamental irrefutável.

 

Fumaça, água ou ideia são os referentes tangíveis, dos quais a voz lírica lança mão, para caracterizar essa fluidez idiossincrática que tantas vezes perverte o diálogo humano: opiniões fundam-se, no mais das vezes, em suposições e não podem ser cotejadas a conclusões amparadas em elementos probantes, cursados em experimentos realizados com todo o rigor científico.

 

J.A.R. – H.C.

 

Antonio Espina

(1891-1972)

 

Vanidad

 

Ser humo.

Pero salir por las rendijas y disiparse

Y salir por la chimenea sin que nos vean.

 

Ser agua.

Pero ¿dulce y prisionera en la cañería?

O ¿amarga y abandonada en el mar?

 

Ser idea.

Pero fuera del cerebro ¿a quién importa?

Y dentro

¿Para qué sirve?

Es verdad.

No es verdad.

 

En: “Signario” (1923)

 

Aparição de rosto e fruteira numa praia

(Salvador Dalí: pintor espanhol)

 

Vaidade

 

Ser fumaça.

Mas sair pelas frestas e dissipar-se

E sair pela chaminé sem que nos vejam.

 

Ser água.

Mas doce e prisioneira no encanamento?

Ou amarga e abandonada no mar?

 

Ser ideia.

Mas, fora do cérebro, a quem importa?

E dentro,

Para que serve?

É verdade.

Não é verdade.

 

Em: “Signário” (1923) (*)

 

Nota:

 

(*). Signário: conjunto de signos ou de caracteres de algumas escritas antigas.

 

Referência:

 

ESPINA, Antonio. Vanidad. In: __________. Poesía completa: signario, umbrales y otros poemas. Presentación y selección de Gloria Rey Faraldos. Madrid, ES: Fundación BSCH, nov. 2000. p. 14. (Colección ‘Obra Fundamental’)

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