Pondera o poeta
espanhol sobre o amplo hiato entre os limites comportamentais de temperança e
de incontinência – este muito mais conforme aos arroubos de vaidade –, entre os
quais a verdade arrisca-se a visitar fronteiras maleáveis, muitas vezes contíguas
ao seu exato antônimo, configurando, decerto, contextos predicáveis como doxológicos,
mas que, a depender do ânimo de quem os defende, revestem-se da insolente pretensão
a fixar-se como um cânone mandamental irrefutável.
Fumaça, água ou ideia
são os referentes tangíveis, dos quais a voz lírica lança mão, para caracterizar
essa fluidez idiossincrática que tantas vezes perverte o diálogo humano: opiniões
fundam-se, no mais das vezes, em suposições e não podem ser cotejadas a conclusões
amparadas em elementos probantes, cursados em experimentos realizados com todo
o rigor científico.
J.A.R. – H.C.
Antonio Espina
(1891-1972)
Vanidad
Ser humo.
Pero salir por las
rendijas y disiparse
Y salir por la
chimenea sin que nos vean.
Ser agua.
Pero ¿dulce y
prisionera en la cañería?
O ¿amarga y
abandonada en el mar?
Ser idea.
Pero fuera del
cerebro ¿a quién importa?
Y dentro
¿Para qué sirve?
Es verdad.
No es verdad.
En: “Signario” (1923)
Aparição de rosto e fruteira
numa praia
(Salvador Dalí:
pintor espanhol)
Vaidade
Ser fumaça.
Mas sair pelas
frestas e dissipar-se
E sair pela chaminé
sem que nos vejam.
Ser água.
Mas doce e
prisioneira no encanamento?
Ou amarga e
abandonada no mar?
Ser ideia.
Mas, fora do cérebro,
a quem importa?
E dentro,
Para que serve?
É verdade.
Não é verdade.
Em: “Signário” (1923) (*)
Nota:
(*). Signário:
conjunto de signos ou de caracteres de algumas escritas antigas.
Referência:
ESPINA, Antonio.
Vanidad. In: __________. Poesía completa: signario, umbrales y otros
poemas. Presentación y selección de Gloria Rey Faraldos. Madrid, ES: Fundación
BSCH, nov. 2000. p. 14. (Colección ‘Obra Fundamental’)
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