Escrever um poema de
amor que seja definitivo: quer sonho maior?! Não é que os poeta sejam
pretensiosos a tal ponto, senão que o arroubo que lhes vem à mente sempre
espera por um resultado contundente no domínio das palavras, capaz de dar conta
da totalidade daquilo que lhe vai no interno, quer como sentimento, quer como
pensamento, quer ainda como intuição de seus estados d’alma.
Mas as palavras têm
limites e muito do que é poesia ao espírito não se converte em poesia decantada
em versos, obstando o pleno contentamento do poeta: em cantigas trovadorescas –
de amor & de amigo – segue a voz lírica a buscar o metro perfeito nesse
jogo iterativo de aproximação a um alvo que nunca chega, a configurar a utopia,
o “nirvana” da completude expressiva.
J.A.R. – H.C.
Alice Ruiz Scherone
(n. 1946)
Sonho de Poeta
Quem dera fosse meu
o poema de amor
definitivo.
Se amar fosse o
bastante,
poder eu poderia,
pudera,
às vezes, parece ser
esse.
meu único destino.
Mas vem o vento e
leva
as palavras que digo,
minha canção de
amigo.
Um sonho de poeta,
não vale o instante
vivo.
Pode que muita gente
veja no que escrevo
tudo que sente
e vibre
e chore
e ria,
como eu antigamente,
quando não sabia
que não há um verso,
amor,
que te contente.
De todos os meus
amigos e amantes
(Randall Hobbs:
pintor norte-americano)
Referência:
RUIZ S., Alice. Sonho
de poeta. In: __________. dois em um. 1. ed. 1. reimp. São Paulo, SP: Iluminuras,
2009. p. 50.
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