Já lá se vão cinco
décadas e meia da morte de Hughes e, consequentemente, da elaboração deste poema
do autor angolano, ambos de tez negra, cor destinatária prevalecente da discriminação
que ainda grassa nos dias que correm, quer em Angola, quer nos EUA, quer ainda
em Pindorama, digam o que digam os que a renegam, pois os dados estatísticos –
sociológicos e econômicos – são muito mais eloquentes.
O poema se pauta pelo
verso derradeiro, levemente reescrito, de “I, too”, de autoria de Hughes, em
evidente diálogo com as ponderações contestatárias presentes em suas linhas, em
especial, aquela que compendia toda a intolerância que atravessa o corpo social:
“À entrada dos convidados, vá comer na cozinha!”.
J.A.R. – H.C.
Jofre Rocha
(n. 1941)
Na morte de Langston
Hughes
l’m too America!...
Sim, eras também América
embora não o
quisessem eles.
Mas eras América por direito
próprio
América desde a
Guerra de Secessão
até à do Vietnam
passando pela Coreia.
Eras América nos músculos
na voz e nos nervos
América na carne e no
sangue, que juntaste à argamassa
da pátria que não
queriam tua.
Do conformismo jamais
soubeste
a cor, por isso
em voz onde reminiscências
pairavam
de escravidões
passadas,
gritaste:
l’m too America!
Eras América, sim,
Hughes
eras América no corpo
e na alma
da cabeça aos pés América
embora te mandassem
para a cozinha
à entrada dos
convidados.
Eras América, Hughes,
tão América
como eles!
(Maio/67)
Langston Hughes
(1901-1967)
Referência:
ROCHA, Jofre. Na
morte de Langston Hughes. In: GARCÍA, Xosé Lois (Traducción, introducción,
glosario y biografía). Poemas a la madre África: antología de la poesía
angolana del siglo XX. Edición bilingüe: português x español. Sada (A Coruña,
ES): Ediciós do Castro, 1997. p. 228.
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